Essa tentativa seria inútil, pode dizer-lhes sem rodeios. Até pode ser que já tenham chegado a essa conclusão, mas, se isso não tiver sucedido, pouco me importa que eles obtenham ou não essa informação. Apenas lhes evitaria alguma preocupação, e a mim, evidentemente, algum aborrecimento, mas sentiria prazer em suportar qualquer inconveniência se esta significasse uma contrariedade para eles. Mais ainda: terei o cuidado de fazer com que isso aconteça. A propósito, a senhora conhece realmente o Juiz de Instrução?» «Conheço, sim», respondeu a mulher. «Ele foi o primeiro em quem pensei quando lhe ofereci a minha ajuda. Não sabia que ele era apenas um insignificante funcionário, mas, se o senhor o afirma, é com certeza verdade. Em todo o caso, suponho que os relatórios que ele manda aos seus superiores terão alguma influência. E ele escreve um número infindo de relatórios! O senhor diz que os funcionários são preguiçosos, mas isso não se aplica a todos eles e muito menos ao Juiz de Instrução, pois este está sempre a escrever. Domingo passado, por exemplo, a audiência durou ate noite alta. Todos se foram embora menos ele, que ficou na sala de audiências, e até tive de lhe trazer um candeeiro... eu apenas tinha um candeeirozinho de cozinha, mas aquilo chegou-lhe, tendo começado logo a escrever. Entretanto, meu marido Chegou a casa, visto que estava de folga naquele domingo. Transportamos de novo a nossa mobília, pusemos tudo nos seus lugares, tendo depois chegado alguns vizinhos com quem estivemos a conversar à luz de uma vela. Para dizer a verdade, a prova de que nos esquecemos do Juiz de Instrução é que nos fomos deitar. A meio da noite, de repente, devia ser já bastante tarde, acordei com o Juiz de Instrução ao pé da nossa cama, a m ao a tapar o candeeirinho, de modo que a luz não batesse no rosto de meu marido... uma precaução desnecessária, pois ele dorme tão pesadamente que a luz nunca o acordaria. Fiquei tão espantada que ia gritando, mas o Juiz de Instrução foi muito simpático, preveniu-me que tivesse cuidado, tendo-me sussurrado que tinha estado a escrever até àquela hora e que viera entregar o candeeiro, mas que nunca mais se esqueceria da minha imagem deitada na cama a dormir. Conto-lhe isto só para lhe demonstrar que o Juiz de Instrução está realmente sempre ocupado a escrever relatórios, especialmente a seu respeito, pois o seu interrogatório era certamente um dos pontos importantes nas sessões dos dois dias. Com certeza que tão longos relatórios não podem ser insignificantes. Contudo, além disso, pode depreender do que lhe contei que o Juiz de Instrução começou a sentir interesse por mim e que, nesta primeira fase — ele deve ter reparado em mim pela primeira vez... poderia exercer uma grande influência nele. Nesta altura até já tenho outras provas de que ele está ansioso por conquistar o meu interesse.
