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Capítulo 3: Capítulo 3

Página 48

Enquanto o Juiz de Instrução ocupava umas águas-furtadas, K. tinha um grande gabinete no Banco, com uma sala de espera anexa e uma enorme janela com vidraça, através da qual podia observar a vida buliçoso da cidade. Era verdade que não possuía outros rendimentos provenientes de subornos ou especulações e não podia dar ao seu assistente a ordem de ir buscar uma mulher e trazê-la ao seu gabinete. Mas K. renunciava de boa vontade a tudo isso, pelo menos nesta vida.

K. conservava-se ainda ao pé do cartão quando um homem que subia a escada se aproximou, olhou para dentro da sala através da porta aberta, da qual se podia ver a sala de audiências, e lhe perguntou se acaso tinha visto por ali uma mulher. «O senhor é o oficial de diligências, não é verdade?», indagou K. «Sim», respondeu o homem. «O senhor é o réu K., estou a reconhece-lo, seja bem-vindo!», e estendeu a mão a K, que não esperava tal coisa. «Mas não estava anunciada nenhuma audiência para hoje», prosseguiu o oficial de diligências, visto K. continuar calado. «Eu sei», respondeu K., fitando o trajo civil do homem, que ostentava no casaco, além dos botões vulgares, dois botões dourados, como se fossem um emblema dos serviços, e que pareciam ter sido arrancados de um casaco velho de uma farda do exército. «Estive a falar com a sua mulher há uns momentos, mas ela agora não está aqui. O estudante levou-a à presença do Juiz de Instrução.» «Ora .n tem», queixou-se o oficial de diligências, «estão sempre a levá-lo para longe de mim. Até hoje, que é domingo e eu não estou de serviço, só para me manterem fora de casa, mandaram-me fazer um recado inútil. E têm o cuidado de me não mandarem longe de mais, de modo que eu fique com a esperança de regressar a tempo se me apressar. E lá andei eu a correr o mais depressa que me foi possível, gritando a mensagem através da porta meio aberta da repartição onde me mandaram ir, quase sem fôlego, de tal maneira que eles mal me percebiam, e lá voltei eu outra vez a correr e, no entanto, o estudante ainda aqui chegou antes de mim. Claro que ele não teve de ir tão longe como eu, teve apenas de descer do sótão por esta pequena escada de madeira. Se o meu emprego não estivesse em jogo, há muito tempo que já tinha esmagado aquele estudante de encontro a uma parede. Mesmo aqui ao pé deste cartão. Sonho com isto todos os dias, vejo-o esmagado aqui, um pouco acima do chão, os braços abertos, os dedos estendidos, as pernas arqueadas contorcendo-se e manchas de sangue a toda a volta. Contudo, não passa de um sonho.»

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 48

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179