O Processo - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 54 / 183

O sol bate no tecto e as vigas quentes tornam o ar abafado e pesado aqui dentro. Faz com que este lugar não seja o mais adequado para escritórios, apesar das outras vantagens que oferece. Quando há muita gente a atender, o que acontece quase todos os dias, o ar quente torna-se irrespirável. Se pensarmos na quantidade enorme de roupa de toda a espécie que penduram aqui por cima a secar... não é possível proibir os locatários de lavarem as suas roupas... não ficará surpreendido por se ter sentido com tonturas. Por fim, habituarão nos a isto. Quando cá voltar mais uma ou duas vezes, mal se aperceberá do ar viciado que respiramos aqui dentro. Já se sente realmente melhor?» K. não respondeu. Reconheceu quão penoso era ter ficado nas mãos desta gente devido à súbita sensação de fraqueza; além disso, mesmo agora, que já conhecia a causa do seu desfalecimento, não melhorava nada, antes se sentia consideravelmente pior. A rapariga notou esta mudança imediatamente e, para ajudar K., pegou numa trave de madeira com um gancho na ponta, que estava encostada à parede, e com ela abriu uma pequena clarabóia mesmo por cima da cabeça de K.,para permitir a entrada de ar fresco. Começou, no entanto, a cair tanta fuligem que ela teve de voltar logo a fechá-la, limpando com um lenço as mãos de K., que estava demasiadamente cansado para ser ele próprio a fazê-lo. Tinha sido preferível sentar-se ali calmamente até readquirir as forças suficientes para se ir embora, tanto mais que, quanto menos perturbado se sentisse por esta gente, mais depressa se refaria. Mas a rapariga preveniu-o: «O senhor não pode continuar aqui porque está a obstruir a passagem.» K. olhou à sua volta inquisitivamente pata ver o que estaria ele a obstruir. «Se quiser, levo-o até à enfermaria. Dê-me uma ajuda, por favor», disse ela ao homem que estava à porta e que apareceu imediatamente. K., no entanto, não tinha vontade nenhuma de ir para a enfermaria, queria era evitar que o levassem para mais longe, visto que quanto mais longe fosse pior seria o regresso para ele. «Sinto-me já em forma para me ir embora.», respondeu ele, levantando-se da confortável cadeira em que se tinha relaxado, mas as pernas tremiam-lhe de tal maneira quando se pôs de pé que não se sustinha direito. «Afinal, não consigo», lamentou-se ele, abanando a cabeça, e, soltando um suspiro, sentou-se novamente. Pensou que o oficial de diligências o pudesse levar facilmente dali para fora, apesar da sua fraqueza, mas pareceu-lhe que ele tinha desaparecido há muito tempo.





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