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Capítulo 3: Capítulo 3

Página 57

Da primeira vez estivera tão direito à frente dele, e agora eram precisas duas pessoas para o manter de pé. O Chefe dos Serviços Informativos balançava o seu chapéu nas pontas dos dedos e tinha o cabelo despenteado e caído sobre a testa, inundada de suor. Mas o homem parecia não se aperceber de nada disto, levantou-se humildemente perante o Chefe dos Serviços Informativos (que olhou sem o notar) e procurou justificar a sua presença ali. «Eu sei», disse ele, «que a decisão a respeito dos meus depoimentos não pode ser dada hoje. Mas vim cá de qualquer maneira, pois é domingo, tenho imenso tempo e aqui não perturbo ninguém.» «O senhor não precisa de se justificar», respondeu-lhe o Chefe dos Serviços Informativos. «O seu cuidado é de elogiar; esta a ocupar espaço aqui, é evidente, mas, enquanto não me incomodar, não o impedirei de modo nenhum que acompanhe o andamento do seu caso tão de perto quanto possível. Quando se ve tanta gente que escandalosamente descuidou o cumprimento dos seus deveres, temos de concordar que devemos ter paciência com homens como o senhor. Sente-se, por favor.» «Que bem que ele sabe falar com as pessoas!», segredou a rapariga a K., que acenou com a cabeça, mas teve imediatamente um violento estremeção quando o Chefe dos Serviços Informativos lhe perguntou novamente: «Quer sentar-se aqui?» «Não», respondeu K., «não quero descansar.» Disse isto de uma maneira decidida, se bem que, na realidade, ficasse muito satisfeito se pudesse sentar-se. Sentia-se agoniado. Parecia-lhe que navegava num mar agitado. Era como se as águas batessem com força de encontro às paredes de madeira, como se um rugido provocado pelo quebrar das ondas viesse do fundo do corredor, como se este se inclinasse para cima e para baixo e as pessoas que esperavam de cada lado fossem arrastadas até rolarem pelo chão. Por isto tudo, o que mais incompreensível lhe parecia era a compostura da rapariga e do homem que o escoltavam. Ficou entregue nas mãos deles e, se eles o deixassem seguir, cairia como uma pedra. Continuaram a olhar à sua volta com os olhos pequenas e vivos, sentindo K. que eles avançavam com um passo regular, sem que ele, contudo, tomasse parte nesse avanço em virtude de nesse momento ser quase arrastado passo a passo. Por fim apercebeu-se de que se dirigiam a ele, mas não conseguia perceber o que lhe diziam: não era capaz de ouvir nada a não ser o ruído que se espalhava por todo o lado e um som agudo e contínuo que parecia o de uma sirene a tocar. «Mais alto», murmurou com a cabeça caída, sentindo-se envergonhado do pedido, visto ter a certeza de que os dois funcionários haviam falado suficientemente alto, ainda que não lhe tivesse sido possível distinguir o que eles diziam.

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 57

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179