O Processo - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 58 / 183

Então, como se a parede em frente tivesse sido cortada ao meio, uma corrente de ar fresco chegou finalmente até ele e ouviu uma voz junto dele dizer: «Primeiro queria ir, em seguida diz-se-lhe uma centena de vezes que a porta está mesmo à sua frente e não faz um único gesto para andar.» K. viu então que estava defronte da porta de saída, que a rapariga mantinha aberta. Foi como se tivesse recuperado todas as suas energias de uma assentada e, para antegozar o sabor da liberdade, pôs imediatamente os pés num degrau da escada e dali disse adeus aos seus dois ajudantes, que inclinaram a cabeça para baixo para o poderem ouvir. «Muito obrigado», disse ele repetidamente, apertando-lhes a mão vezes seguidas e só os deixando quando se apercebeu de que eles, acostumados como estavam ao ar viciado do escritório, se sentiam desconfortáveis com o ar relativamente fresco que subia pela escada. Mal lhe podiam responder e a rapariga teria caldo se K. não tivesse fechado a porta apressadamente. K. ficou imóvel por uns momentos, compôs o cabelo ao espelho de bolso, apanhou o chapéu do degrau abaixo — deve ter sido o Chefe dos Serviços Informativos que o colocou ali — e depois saltou de degrau em degrau, escada abaixo, tão alegremente e com passas tão largos que quase sentia medo desta sua reacção. A sua saudável constituição física jamais lhe preparara tais surpresas. Sena que o seu organismo estava a forjar uma revolução e a preparar um novo processo, já que ele tinha resistido ao anterior com tanta facilidade? Não pôs completamente de lado a ideia de consultar um médico na primeira oportunidade, mas, de qualquer maneira, tinha resolvido — e neste ponto podia aconselhar-se a si próprio — tirar melhor partido das futuras manhas de domingo.





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