Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 4: Capítulo 4

Página 61

Contentou-se em tomar o seu café e deixar que Frau Grubach se apercebesse de que a presença dela se tornara fastidiosa. Continuava a ouvir de novo os passas arrastados de Fraulein Montag, comando de um lado para o outro no vestíbulo de entrada. «Está a ouvir?», perguntou K., apontando para a porta. «Sim», respondeu ela, suspirando. «Ofereci-me para a ajudar e para mandar a criada ajudá-la também, mas ela é muito voluntariosa e insistiu em mudar tudo sozinha. Estou admirada com Fraulein Bürstner. Lamentei muitas vezes o facto de ter recebido Frãulein Montag como hóspede e agora Fraulein Bürstner mete-a no seu quarto.» «Não se preocupe com isso», disse-lhe K., desfazendo com a colher o resto do açúcar que tinha ficado no fundo da chávena. «A senhora perde alguma coisa com isso?» «Não», respondeu ela. «O facto em si até me favorece, porque fico com um quarto livre e posso lá pôr o meu sobrinho, o capitão. Fiquei preocupada porque poderia incomodá-lo nestes últimos dias em virtude de lhe ter dado a sala de estar ao lado. Ele não é muito atencioso.» «Que ideia», retorquiu K., levantando-se. «Isso não tem importância. Naturalmente pensa que sou hipersensível, só porque não suporto o arrastar dos pés de Fraulein Montag de um lado para o outro... ai está ela outra vez, agora de regresso.» Ftau Grubach sentiu-se desanimada. «Quer que lhe diga, Herr K, que mude o resto das coisas mais tarde? Se realmente desejar, peço-lhe imediatamente.» «Mas ela não tem de se mudar para o quarto de Fraulein Bürstner?», gritou K. «Sim», respondeu ela, sem ter percebido bem o que K. queria dizer. «Bom», disse K., «então ela tem mesmo de mudar para lá as suas coisas.» Frau Grubach fez simplesmente que sim com a cabeça. O seu forte desanimo, que aparentava uma simples teimosia, exasperou ainda mais K. Começou a andar de um lado para o outro, da janela para a porta e da porta para a janela, e, ao faze-lo, impedia que Frau Grubach se esgueirasse do quarto, o que ela teria provavelmente preferido fazer.

K. acabara de chegar outra vez junto da porta quando ouviu bater. Era a criada que vinha dizer que Fraulein Montag gostaria de trocar umas palavras com Herr K. e que lhe pedia, por isso, o favor de se dirigir à sala de jantar, onde esperaria por ele. K. ouviu pensativamente a mensagem e em seguida deitou a Frau Grubach uma olhadela um pouco escarnecedora que a deixou surpreendida. Aquele olhar significava que ele há muito tempo esperava este convite de Frau Montag, que se relacionava perfeitamente com o incómodo que tinha tido ao suportar as hóspedes de Frau Grubach naquela manhã de domingo. Ele mandou dizer pela criada que iria imediatamente, tendo-se dirigido ao guarda-fatos para mudar de casaco. Em resposta a Frau Grubach, que lamentava baixinho o procedimento da incómoda Frau Montag, ele nada mais disse senão que fizesse o favor de levar dali a bandeja do pequeno-almoço. «O senhor quase não tocou em nada», observou ela. «Por favor, leve isso daqui», gritou K., a quem parecia que Fraulein Montag interferia de algum modo com a comida, deixando-a nauseabunda.

<< Página Anterior

pág. 61 (Capítulo 4)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 61

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179