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Capítulo 5: Capítulo 5

Página 68

A minha pobre namorada está lá fora à porta do Banco a aguardar o resultado. Sinto-me tão envergonhado e tão infeliz!» Limpou a cara, molhada das lágrimas, ao casaco de K. «Não posso esperar mais tempo», avisou o algoz, agarrando no açoite com ambas as mãos e açoitando Franz, enquanto Willem se agachava a um canto e espreitava, sem se atrever a virar a cabeça. Então ouviram-se os gritos de Franz, tão contínuos que não pareciam vir de um ser humano, mas sim de um instrumento a ser martirizado e que ressoaram de tal modo por todo o corredor que o prédio inteiro os devia ter ouvido. «Não grite», ordenou-lhe K.; estava fora de si e olhava insistentemente na direcção de onde os funcionários deviam vir a correr, mas entretanto deu a Franz um empurrão, não demasiadamente violento, mas o suficiente para o homem, já meio desfalecido, cair e, convulsivamente, tentar agarrar o chão; ainda assim, Franz não se livrou do seu castigo, pois o açoite descobriu-o onde ele se encontrava, com a ponta sibilante em movimentos regulares para cima e para baixo, enquanto ele se rebolava no chão. Foi então que um dos funcionários apareceu à distancia e o outro uns passas atrás. K. bateu rapidamente com a porta, dirigiu-se à janela próxima, que dava para o pátio, e abriu-a. Os gritos tinham parado completamente. Para evitar que os dois funcionários se aproximassem mais, K. gritou-lhes: «Sou eu.» «Boa noite, senhor», disseram eles em resposta. Aconteceu alguma coisa?» «Não, não aconteceu nada», disse-lhes K, «era apenas um cão a uivar no pátio.» Como os funcionários não se movessem, continuou: «Podem voltar ao vosso trabalho.» E, para não ter de continuar com a conversa, debruçou-se da janela. Quando, passados uns momentos, K. relanceou os olhos pelo corredor, verificou que eles se tinham ido embora.

Contudo, permaneceu junto à janela, não se atrevia a voltar ao quarto de arrumações e tão-pouco desejava voltar para casa. Via lá em baixo um patiozinho quadrado, rodeado de escritórios, cujas janelas estavam todas as escuras, com excepção das vidraças de cima, que reflectiam a luz suave do luar. K. esforçou-se por distinguir no meio da escuridão do pátio um canto onde carrinhos-de-mão se amontoavam. Estava profundamente desapontado consigo próprio por não ter sido capaz de impedir as chicotadas, mas a culpa não fora realmente sua; se Franz não tivesse começado a berrar — é certo que devia ter sido muito doloroso, mas uma pessoa deve aprender a controlar-se nas crises —, se ele não tivesse berrado, K. teria provavelmente descoberto, pelo menos, outros meios de persuadir o algoz. Se os mais baixos componentes de toda esta organização eram uns miseráveis, por que razão é que o algoz, que tinha, afinal, a mais desumana profissão entre todas, teria de constituir uma excepção?

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 68

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179