Já tens muito melhor aspecto», comentou o tio de K. «Foi desde que aquela bruxa se foi embora.» A seguir segredou: «Aposto que ela está à escuta» e, de um salto, abriu a porta. No entanto, não estava ninguém atrás da porta, pelo que tornou a afastar-se dela, não muito desapontado, visto que o facto de ela não estar ali à escuta lhe parecia um acto de pura malícia, tanto quanto amargurado. »Estás a ser injusto com elas, disse o advogado, sem acrescentar mais nada em defesa da sua enfermeira, o que talvez quisesse significar que ela não necessitava de defesa. A seguir, num tom de voz muito mais amistoso, continuou: «Voltando ao caso do teu sobrinho, sentir-me-ia muito feliz se as minhas forças me permitissem tomar conta de uma tão árdua tarefa, mas receio bem que isso não aconteça; no entanto, não deixarei de fazer todos os esforços. Se eu não conseguir, poderás, é claro, chamar alguém para me ajudar. Para te ser franco, o processo desperta-me tanto interesse que não resistirei à oportunidade de tomar parte nele. Se o meu coração não aguentar, encontrará aqui pelo menos um obstáculo digno de o fazer falhar.» K. não conseguia entender uma única palavra de tudo isto e olhava para o tio na esperança de que ele lhe desse alguma explicação; contudo, seu tio, com a vela na mão, havia-se sentado na mesinha-de-cabeceira, da qual um frasco de remédio já tinha c ciclo para cima da carpete, e abanava a cabeça em sinal de assentimento a tudo o que o doutor dizia, lançando de vez em quando a K um olhar, como se reclamasse dele uma aprovação semelhante. Seu tio já teria contado tudo sobre o seu caso ao advogado? Não parecia possível, pois o desenrolar dos acontecimentos fazia rejeitar essa ideia. «Não compreendo...», começou ele, portanto, por dizer. «Oh, talvez eu não o tenha compreendido bem...», disse o advogado, tão surpreendido e embaraçada como K «Talvez tenha sido bastante precipitado. Então, acerca de que assunto me quer consultar? Julguei que era sobre o seu processo!» «Evidentemente que é», disse o tio de K, voltando-se para este e perguntando: «Mas o que é que te preocupa?» «Bom, como veio a saber coisas a meu respeito e sobre o meu processo?», perguntou K. «Oh, então é isso», disse o advogado a sorrir. «Sou advogado, bem vê, e movo-me nos meios judiciais onde todos os casos são discutidos, conservando eu na memória os mais notáveis e muito especialmente este que diz respeito ao sobrinho de um velho amigo meu. Como vê, não é assim tão extraordinário.» «Mas o que te preocupa?», perguntou de novo o tio de K. «Estás tão excitado.»
