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Capítulo 7: Capítulo 7

Página 91

Evidentemente, este facto observava-se na medida do possível; no entanto, tinha-se já verificado em grande escala. Mais ainda, ao réu não era permitida a consulta dos processos e deduzir, pelo decurso dos interrogatórios, que documentos o tribunal mantinha propositadamente sob reserva era muito difícil, principalmente para uma pessoa acusada, já por si implicada e com toda a espécie de aborrecimentos a confundi-la. Era exactamente agora que entrava o advogado de defesa. De uma forma geral, não lhe era permitida a presença durante o depoimento e, consequentemente, tinha, logo após um interrogatório, de tornar a interrogar o acusado, se possível, mesmo da própria porta da sala, recolhendo das respostas, normalmente confusas, tudo o que pudesse ser utilizado na defesa. Mas mesmo isto não era o mais importante, pois assim não se podia deduzir muito, embora, é claro, como em qualquer outro sector, alguém mais apto conseguisse deduzir mais do que outros. O mais importante eram os contactos pessoais com os funcionários do tribunal; nisso assentava a chave da defesa. K. deve ter descoberto agora, por experiência, que a camada mais baixa na organização do tribunal não era de maneira nenhuma perfeita e continha elementos corruptos e venais, uma espécie de brecha no sistema hermético da justiça. Era aqui que os mais insignificantes advogados tentavam abrir caminho, subornando e conspirando, tendo na realidade havido, pelo menos noutros tempos, casos de documentos desviados. Era inegável que tais métodos podiam proporcionar ao acusado resultados surpreendentemente favoráveis, dos quais os insignificantes advogados se orgulhavam, fazendo propaganda deles como chamariz de novos clientes, mas não produziam efeito no andamento do processo, ou, antes, produziam, sim, um mau efeito. O que era verdadeiramente valioso eram as amistosas relações pessoais que mantinham com os funcionários superiores, o que significa, naturalmente, os funcionários superiores das categorias mais baixas. Só através destes se podia exercer influência no andamento do processo, a principio talvez imperceptivelmente, mas cada vez mais fortemente à medida que o processo ia correndo. Não há dúvida de que apenas alguns advogados tinham essas ligações, e K., neste caso, fizera uma escolha muito feliz. Talvez apenas um ou dois outros advogados pudessem gabar-se de ter ligações idênticas às do Dr. Huld. Estes não se preocupavam com a gentalha que enchia a sala dos advogados e nada tinham que ver com ela. No entanto, as suas relações de amizade com os funcionários do tribunal eram as mais intimas.

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 91

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179