De quando em vez apareciam desconhecidos que, conversando com o homem da camisola vermelha, se lhe dirigiam excitados, aduladores e nos termos e modos mais diversos. E, se nessas alturas o dinheiro transitava entre eles, os desconhecidos levavam consigo um ou mais cães. Buck tentava imaginar para onde iriam, pois nunca regressavam; mas o medo do futuro angustiava-o muito, e era com alegria que via que mais uma vez não fora escolhido.
A sua vez, porém, acabou por chegar na pessoa de um homenzinho encarquilhado, que cuspia um inglês adulterado juntamente com várias exclamações estranhas e toscas, que Buck não podia perceber.
— Ah, valente! — exclamou ele, quando os seus olhos, brilhando, deram com Buck. — Este aqui não é para brincadeiras! Hem? Quanto quer por ele?
— Trezentos dólares, e é de graça — foi a resposta pronta do homem da camisola vermelho. —E como se trata de dinheiro do Estado, nada de escoicear, hem, Perrault?
Perrault riu, sardónico. Atendendo a que o preço dos cães subira estrondosamente em virtude da procura excepcional, não se tratava de uma quantia despropositada para tão belo animal. O Governo canadiano nada tinha a perder, e não seria com isso que os seus documentos haviam de chegar mais atrasados. Perrault percebia de cães, e mal olhara para Buck vira que ele era um caso único em mil. "Um em dez mil", anotou mentalmente.
Buck viu o dinheiro transitar entre eles e não ficou surpreendido quando Curly, uma simpática e bonacheirona terra-nova, e ele foram levados dali pelo homenzinho encarquilhado. Foi essa a última vez que ele viu o homem da camisola vermelha, assim como também era a última vez que avistava as terras quentes do Sul, quando, mais tarde, da coberta do Narwhal ele e Curly olhavam para Seattle, que a pouco e pouco se perdia no horizonte. Perrault levou-os para baixo e entregou-os a um gigante de escuta tez chamado François. Perrault era um canadiano francês moreno, mas François, canadiano francês também, era mestiço e duas vezes mais moreno.