O apelo da floresta - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 9 / 99

— Pois bem, Buck, meu velho — prosseguiu em voz cordial —, já tivemos a nossa pequena pega, e o melhor que temos a fazer é ficarmo-nos por aqui. Conheces agora qual o teu lugar, e eu o meu. Porta-te como um cãozinho bem educado, e tudo se passará da melhor forma. Mas experimenta ser malvado, e verás como te arranco a pele à cacetada. Entendido?

Enquanto assim falava, ia temerariamente acariciando a cabeça que momentos antes espancara sem piedade, e, embora o pêlo involuntariamente se lhe eriçasse ao contacto daquela mão, Buck suportou-a sem protestar.

Quando o homem lhe trouxe a água, bebeu-a com sofreguidão, e em seguida tragou, naco a naco e pela mão do homem, uma generosa refeição de carne crua.

Fora vencido, reconhecia-o, mas não domado. Compreendeu de uma vez para sempre que contra um homem armado de cacete não tinha qualquer possibilidade. Aprendera a lição, e pela vida fora não mais a esqueceria. Aquele cacete fora uma revelação, a sua iniciação no domínio da lei primitiva, de que ele experimentou a metade. A realidade assumia agora um aspecto mais cruel, e, ao encará-la sem temor, fazia-o com toda a astúcia latente da sua natureza desperta. À medida que os dias passavam, vinham chegando outros cães, enjaulados ou presas por uma corda, uns resignados e outros esbracejando e rosnando, como ele viera; e, um por um, vira-os a todos passar pelas mãos dominadoras do homem da camisola vermelha. E, de todas as vezes que assistia ao brutal espectáculo, a lição calava fundo no íntimo de Buck: um homem de cacete na mão impunha a lei, r era um patrão a quem se devia obedecer, embora não necessariamente granjear as boas graças. Disto nunca Buck foi culpado, apesar de ter visto cães, depois de espancados, adularem o homem e, abanando a cauda, lamberem-lhe a mão. De igual modo viu, também, um cão que, por se recusar tanto a adular como a obedecer, acabou por ser morto na luta pela supremacia.





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