O apelo da floresta - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 17 / 99

Nova lição. Era então assim que eles se arranjavam, hem? Buck, de novo confiante, escolheu o local e, com muita bulha e esforço desperdiçado, entregou-se à tarefa de cavar um buraco para si. Num instante o calor do seu corpo preencheu o espaço limitado, e adormeceu. O dia fora longo e árduo e ele dormiu profunda e reparadoramente, embora soltasse alguma rosnadela ou latido, e até estrebuchasse, na agitação dos pesadelos.

Só abriu os olhos quando foi despertado pelos primeiros ruídos do acampamento. A princípio não percebeu onde se encontrava. Nevara durante a noite e ele estava completamente soterrado. As paredes de neve comprimiam-no por todos os lados e uma onda de terror invadiu-o—o terror do animal selvagem pela armadilha. Era o sinal evidente de que através da sua vida recuava às vidas dos seus antepassados: pois ele era um cão civilizado, um cão deslocadamente civilizado, de cuja experiência da vida não fazia parte a armadilha, não havendo portanto razão para ele, por si só, a recear. Todos os músculos do seu corpo se contraíram espasmódica e instintivamente, o pêlo do pescoço e espáduas eriçou-se-lhe, e, com uma rosnadela feroz, de um pulo irrompeu para a claridade resplandecente do novo dia, a neve esvoaçando à sua volta numa nuvem cintilante. Ainda no ar, avistou o acampamento branco que se estendia na sua frente, percebendo então onde se encontrava e lembrando-se de tudo o que se passara, desde o momento em que fora passear com Manuel até ao buraco que para si cavara na noite anterior.

Um grito de Francois saudou a sua aparição.

— Eu não dizia?! — gritou o condutor dos Fies para Parault. — Esse Buck aprende depressa como tudo.

Perrault acenou a cabeça com gravidade. Como correio do Governo canadiano, responsável pela entrega de documentos importantes, tinha todo o interesse em adquirir os melhores cães, pelo que a posse de Buck o enchia de uma satisfação especial.





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