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Capítulo 2: Capítulo 2

Página 20

Depressa perdeu o enfado que caracterizara a sua vida passada. Saboreava da comida, descobriu que os companheiros, que acabavam primeiro, lhe roubavam o resto da ração. E não havia maneira de a salvaguardar, pois enquanto se ocupava em afastar dois ou três, estava ela a ser tragada pelos outros. Como remédio, passou a comer tão depressa como eles; e, porque a fome era negra, também não resistia a tirar o que não lhe pertencia. Observava e aprendia. Quando, um dia, viu Pike, um dos novos cães, um espertalhão que se fingia de doente e era ratoneiro, roubar, pela calada, e nas costas de Perrault, uma fatia de toucinho, repetiu a façanha no dia seguinte, fugindo com o naco inteiro. Levantou-se um grande rebuliço, mas dele ninguém suspeitou; e foi Dub, um desajeitado e trapalhão que estava sempre a ser apanhado, quem foi castigado pelo delito de Buck.

Este primeiro roubo veio provar a aptidão de Buck para sobreviver no meio hostil das terras do Norte. Veio provar a sua adaptabilidade, a sua capacidade para se ajustar a condições mutáveis, cuja carência teria significado a morte imediata e terrível. Veio provar ainda a decadência ou desintegração da sua natureza moral, coisa vá e desvantajosa na luta implacável pela existência. Estava certo que no Sul, sob a lei do amor e da fraternidade, se respeitasse a propriedade privada e os sentimentos de cada um; mas no Norte, onde imperava a lei do cacete e das presas, era louco todo aquele que levasse tais coisas em conta, e tanto quanto as observasse, assim diminuiriam as suas possibilidades de vencer.

Não é que Buck pensasse em tudo isto. Estava apto, era tudo, e inconscientemente ia-se acomodando ao novo modo de vida. Nunca, nos dias da sua vida, fossem quais fossem as circunstancias, voltara costas a uma luta. Mas o cacete do homem da camisola vermelho gravara nele um código mais primitivo e fundamental. Civilizado, ter-se-ia deixado morrer por uma consideração de ordem moral, digamos, em defesa da chibata do juiz Miller; mas a perfeição da sua descivilização era agora evidenciada pela habilidade com que evitava a defesa de uma consideração de ordem moral e assim poder salvar a pele: Não roubava pelo simples prazer de roubar, mas porque o seu estômago lhe exigia. Não roubava às darás, mas sub-reptícia e astuciosamente, em atenção ao cacete e às presas. Em suma, aquilo que fazia, fazia-o porque era mais fácil para ele faze-lo que o não fazer.

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Capa do livro O apelo da floresta
Páginas: 99
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Os capítulos deste livro:
Capítulo 6 67
Capítulo 7 82
Capítulo 1 1
Capítulo 2 13
Capítulo 3 23
Capítulo 4 39
Capítulo 5 50