O apelo da floresta - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 31 / 99

Buck passou a desafiar abertamente a supremacia do outro. Colocava-se entre ele e os infractores que ele devia castigar. E fazia-o deliberadamente. Uma noite caiu um grande nevão, e, de manhã, Pike, o ronhoso, não havia meio de aparecer. Encontrava-se muito bem escondido na sua toca, Com urna boa camada ele neve por cima. François fartou-se de chamar por ele e procurou-o por toda a parte, mas em vão. Spitz espumava de raiva. Percorreu o acampamento de ponta a ponta, o focinho colado ao chão e a esgravatar em todos os sítios prováveis, rosnando tão assustadoramente que Pike o ouviu e todo ele se arrepiou no seu esconderijo.

Porém, quando finalmente o desenterraram e Spitz se lançou pelo ar para o castigar, Buck, com igual fúria, atirou-se para a frente e pôs-se de permeio. Aquilo foi tão inesperado e realizado com tal subtileza que Spitz caiu desamparado para trás. Pike, que momentos antes tremia como um cobarde, perante aquele acto evidente de rebelião, encheu-se de ânimo e atirou-se ao chefe derrubado no chão. Buch. para quem o jogo leal era código esquecido, pulou também para cima de Spitz. Mas François, embora o incidente o divertisse, era inflexível na administração da justiça e descarregou o chicote com quanta força tinha em cima de Buck. E, como isso não bastasse para afastar Buck do rival prostrado, entrou em cena o cabo duro do chicote. Meio atordoado com o golpe, Buck foi atirado para trás e de novo o chicote silvou no ar, atingindo-o repetidas vezes, enquanto Spitz dava uma sova mestra no incorrigível Pike.

Nos dias que se seguiram, e com Dawson cada vez mais próximo, Buck continuou sempre interferindo entre Spitz e os culpados; fazia-o, porém, astuciosamente, quando Francois não estava ali perto. A dissimulada atitude de revolta de Buck deu azo a uma insubordinação geral, que a pouco e pouco foi alastrando. Dave e Sol-leks não foram afectados, mas o resto da matilha foi de mal a pior. Já nada corria direito. As brigas e discórdias eram constantes. Havia sempre sarilho, na base do qual estava Buck. Ele dava que fazer a François, pois este vivia agora na apreensão constante da luta de vida ou de morte entre os dois cães, que sabia ter de vir a travar-se mais cedo ou mais tarde; e mais do que urna noite os ruídos de lutas e zaragatas entre os outros cães o arrancaram do seu saco-cama, com medo de que se tratasse de Buck e Spitz.





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