Nessa altura, a multidão caiu sobre Buck e arrancou-o de cima do homem; mas, enquanto o médico estancava o sangue, ele não deixou de rondar por ali, rosnando furioso, e tentando arremeter, só recuando à vista da série de cacetes hostis. Uma «assembleia de mineiros», convocada no local, decidiu que o cão sofrera provocação suficiente, e Buck foi absolvido. Porém, a sua reputação estava feita e a partir desse dia o seu nome foi espalhado por todos os acampamentos do Alasca.
Mais tarde, já no fim do ano, salvou a vida de Thornton, mas de modo bem diferente. Os três súcios conduziam um barco comprido e estreito por perigosa extensão de quedas de água, na cachoeira de Fort,v Mile. Hans e Pete iam pela margem, lutando contra a força da água por meio de uma corda delgada, passada de arvore a árvore, enquanto Thornton, no barco, auxiliava a descida com uma vara e gritava ordens para a margem. Buck, em terra, aflito e ansioso, conservava-se a par do barco, não despegando os olhos do dono.
Num trecho particularmente perigoso, em que uma série de rochedos mal submersos entrava rio adentro, Hans folgou a corda e, enquanto Thornton, com o auxílio da vara, conduzia o barco para o meio da corrente, correu pela margem com a extremidade da corda na mão, pronto a suster o barco mal este ultrapassasse os rochedos. O barco assim fez, e deslizava agora arrastado por uma corrente tão veloz como as águas de uma azenha, quando Hans, querendo detê-lo, o fez talvez demasiado bruscamente. O barco foi sacudido e arremessado de casco para cima de encontro à margem, enquanto Thornton, que imediatamente fora cuspido, era arrastado pela corrente em direcção ao sítio mais perigoso dos rápidos, uma extensão de águas revoltas de onde nem o nadador mais exímio se libertaria.
Buck imediatamente se atirou à água e, ao cabo de trezentos metros, no meio do turbilhão enfurecido da água, alcançou Thornton. Quando o sentiu agarrar-se-lhe à cauda, Buck tomou a direcção da margem, nadando com todo o poder da sua magnífica força.