Mas o avanço era lento e a corrente espantosamente rápida. De mais abaixo vinha o rugido funesto da corrente, que, furiosa, se despedaçava em farrapos e espuma de encontro aos rochedos, que a atravessavam como dentes de um gigantesco pente. O sorvo da água galgando o último degrau para se lançar no precipício era medonho, e Thornton perdeu as esperanças de alguma vez alcançar a margem. Roçou violentamente por uma rocha, feriu-se numa segunda e foi embater contra uma terceira com força esmagadora. Com ambas as mãos agarrou-se ao topo escorregadio e, libertando Buck, gritou por sobre o ronco da água tumultuosa:
— Vai, Buck! Vai!
Buck não tinha onde segurar-se e era arrastado corrente abaixo, lutando com desespero, mas incapaz de levar a melhor. Quando de novo ouviu a ordem de Thornton, elevou-se fora de água, erguendo a cabeça como que para um último olhar, e depois, obedientemente, dirigiu-se para a margem. Nadou poderosamente e foi agarrado por Hans e Pete no momento preciso em que, exausto de tanto nadar, a morte era mais do que certa.
Sabendo não passar de uns escassos minutos o tempo que um homem pode permanecer agarrado a uma rocha escorregadia e face àquela impetuosa corrente, Hans e Pete correram margem acima, e tão depressa quanto puderam, para um ponto mais afastado do local em que se encontrava Thornton. Com a corda de que tinham vindo a servir-se para travar o barco fizeram um nó em volta do pescoço e espáduas de Buck, de maneira a não o estrangular, nem a impedir-lhe os movimentos, e atiraram-no à corrente. Ele arrojou-se, cheio de coragem, mas não suficientemente, para o meio da corrente. Descobriu o erro demasiado tarde, quando, com Thornton mesmo na sua frente e a uma escassa meia dúzia de braçadas, estava a ser inexoravelmente arrastado para longe.
Hans imediatamente puxou a corda, como se Buck fosse um barco.
