O apelo da floresta - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 87 / 99

Buck não atacou, mas andou à volta dele, tentando cativá-lo com demonstrações amigáveis. O lobo estava desconfiado e temeroso, pois Buck tinha o triplo do seu peso e a sua cabeça mal chegava à altura das espáduas dele. A primeira oportunidade, deitou a fugir e a perseguição recomeçou. Volta não volta, ele era encurralado, e de todas as vezes a cena se repetia, pois não fora o lobo encontrar-se fraco, Buck não o alcançaria tão facilmente.

Corria, até a cabeça de Buck ir a par com o seu flanco, altura em que estacava e de chofre se voltava para ele, apenas para tornar a fugir mal pudesse.

Mas, no fim, a pertinácia de Buck foi recompensada, pois o lobo, certificando-se de que ele não lhe queria mal, consentiu finalmente que esfregassem os focinhos. A partir daí ficaram amigos e começaram a brincar naquele jeito nervoso e um pouco tímido com que as feras desmentem a sua agressividade. Depois de passado algum tempo nisto, o lobo partiu num galope ligeiro, indicando dirigir-se a um sítio determinado. Deu claramente a entender a Buck que devia segui-lo, e, lado a lado, correram na escuridão sombria, pelo leito da enseada acima, direitos ao desfiladeiro donde ela brotava e através da encosta desolada onde ela se formava.

Da vertente aposta da queda de água desceram para uma região plana coberta de grandes extensões de floresta, recortadas por numerosos cursos de água, e através delas correram sem parar, horas a fio, enquanto o Sol se erguia no firmamento e o dia se tornava mais quente. Buck era animado por uma alegria selvagem. Sabia estar finalmente a responder ao apelo, enquanto corria lado a lado com o seu irmão da floresta na direcção do sítio donde o chamamento certamente viera. Assaltavam-no recordações antigas que o faziam estremecer, como outrora estremecera perante as realidades de que elas eram a sombra. Tudo isto já ele fizera antes, algures nesse outro mundo obscuramente recordado; e estava agora de novo a fazê-lo, correndo numa liberdade completa, pisando a terra mole e com o céu aberto sobre ele.