O apelo da floresta - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 93 / 99

Daí em diante, dia e noite, Buck não mais abandonou a sua presa, nunca lhe concedendo um momento de descanso, nem lhe permitindo sequer comer as folhas tenras das árvores ou os rebentos dos vidoeiros e dos salgueiros novos. Também não dava ao alce ferido a ocasião de mitigar a sede que o consumia nos regatos por que passavam. Este, desesperado, por vezes lançava-se em correrias loucas, que Buck não procurava evitar, pois limitava-se a segui-lo na sua passada ligeira, satisfeito com a feição que o jogo estava a tomar, deitando-se quando o veado parava e atacando-o com ferocidade quando ele tentava comer ou beber.

A cabeça enorme pendia cada vez mais sob a pesada armação, enquanto o seu trote bamboleante enfraquecia a olhos vistos. Acontecia-lhe parar durante longos períodos, o focinho a rasar o solo e as orelhas pendentes sem energia, tempo esse que Buck aproveitava para procurar água para si e para descansar. Nesses momentos, em que, arfante e com a língua vermelho de fora, não tirava os olhos do alce, parecia-lhe que uma transformação se operava na face das coisas. Sentia como que uma nova agitação sobre a Terra. Com a vinda dos alces para a região, outras espécies de vida surgiam também. A floresta, os cursos de água e o próprio ar pareciam palpitar com a sua presença. Dava por tudo isso, não através da sua vista, ouvido ou olfacto, mas graças a um outro sentido, um sentido mais subtil. Nada ouvia e nada via, mas sabia, no entanto, que de qualquer modo a Terra estava diferente, que coisas estranhas se tinham posto em movimento e erravam através dela, pelo que se decidiu investigar o quê, mal tivesse liquidado o assunto entre mãos.

Finalmente, no fim do quarto dia, abateu o grande alce. Durante um dia e uma noite conservou-se junto dos despojos, comendo e dormindo alternadamente. Então, repousado, fresco e cheio de força, virou o focinho na direcção do acampamento e de John Thornton. Partindo no seu trote longo e ligeiro, assim continuou, hora após hora, sem um momento de hesitação no caminho a tomar, direito a casa, através de regiões desconhecidas, com uma certeza de orientação capaz de envergonhar o homem e a sua agulha magnética.





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