Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 7: Capítulo 7

Página 96

A luta desesperada de Thornton estava escrita na terra revolvida e fresca e Buck farejou todos os vestígios, que o conduziram à beira da lagoa profunda. Ai, com a cabeça e as mãos mergulhadas na água, jazia Skeet, fiel até ao fim. A própria lagoa, lamacenta e descolorida pelo trabalho dos homens, escondia avaramente o que continha — e continha John Thornton. Buck seguira-lhe o rasto até à água, e o rasto não ia mais além.

Todo aquele dia Buck cismou junto da lagoa e vagueou sem descanso através do acampamento. A morte, como a cessação do movimento, como a passagem para fora e para além das vidas dos seres vivos, ele conhecia-a e sabia que John Thornton estava morto. Sentia dentro de si um vazio imenso, algo de parecido com a fome, mas um vazio que dota, doía, e nenhum alimento podia mitigar. Por vezes, quando se detinha a contemplar as carcaças dos Yeehats, esquecia a sua dor; e, nessas alturas, tomava consciência de um desmedido orgulho em si próprio, um orgulho como nunca experimentara até então. Matara homens, a espécie mais nobre dos animais, e matara-os à face da lei do cacete e das presas. Cheirava os corpos com curiosidade. Tinham morrido tão facilmente... Era mais difícil matar um cão-lobo do que um deles. Afinal, de nada valiam, não fossem as setas, as lanças e os cacetes. Doravante não teria mais medo deles, a não ser quando armados de setas, lanças e cacetes.

A noite caiu e a lua cheia subiu no céu, sobre as árvores, iluminando a Terra de uma luz tétrica. E com a chegada da noite, cismando e velando junto do lago, Buck sentiu a agitação de uma nova vida na floresta, diferente da que os Yeehats tinham provocado. Ergueu-se, de ouvido à escuta e farejando o ar. De muito longe, chegava, trazido pelo vento, um uivo abafado e agudo, seguido por um coro de outros uivos semelhantes e agudos. Com o decorrer dos minutos os uivos faziam-se ouvir cada vez mais próximos e mais fortes. De novo Buck os reconheceu como coisas ouvidas naquele outro mundo que lhe persistia na memória. Caminhou para o meio da clareira e pôs-se a ouvir. Era o apelo, o apelo das muitas notas, soando mais tentadora e imperativamente do que nunca. E, como nunca, estava pronto a obedecer-lhe. John Thornton estava morto.

<< Página Anterior

pág. 96 (Capítulo 7)

Página Seguinte >>

Capa do livro O apelo da floresta
Páginas: 99
Página atual: 96

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 6 67
Capítulo 7 82
Capítulo 1 1
Capítulo 2 13
Capítulo 3 23
Capítulo 4 39
Capítulo 5 50