O apelo da floresta - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 98 / 99

Gania baixinho, e, como Buck lhe respondesse, encostaram os focinhos.

Nessa altura, um lobo velho, descarnado e coberto de cicatrizes, adiantou-se também. Buck arreganhou os dentes, preparando-se para rosnar, mas acabou por esfregar o focinho no dele. Feito isto, o lobo velho sentou-se, apontou o focinho para a Lua e lançou um longo uivo de lobo. Os outros sentaram-se e puseram-se a uivar. Agora o apelo chegava até Buck em tons inconfundíveis. Sentou-se e uivou também. Depois saiu do abrigo e a alcateia apinhou-se à sua volta, cheirando-o num jeito meio amistoso, meio selvagem. Os chefes ergueram o grito da alcateia e precipitaram-se, floresta adentro. Os outros lobos seguiram-nos, saracoteando e ganindo em coro. E Buck acompanhou-os, lado a lado com o irmão selvagem e ganindo enquanto corria.

A história de Buck poderia acabar aqui. Ainda muitos anos não eram passados, quando os Yeehats começaram a notar uma transformação na raça dos lobos da floresta: exibiam umas manchas castanhas na cabeça e no focinho e uma listra branca correndo-lhes a meio do peito. Mas mais notável ainda é o facto de os Yeehats falarem de um Cão Fantasma que corre à cabeça da alcateia. Eles temem este Cão Fantasma, porque a sua astúcia é maior do que a deles, assaltando-lhes os acampamentos durante os invernos rigorosos, roubando-lhes as armadilhas, matando-lhes os cães e desafiando o mais bravo dos seus caçadores.

Não, a lenda torna-se mais sombria ainda. Caçadores há que não regressam ao acampamento, e outros têm sido encontrados com a garganta cruelmente rasgada e junto, marcadas na neve, pegadas de lobo, maiores que as pegadas de qualquer lobo. No Outono, quando os Yeehats seguem o movimento dos alces, há um certo vale em que nunca entram. E mulheres há que entristecem quando, à volta da fogueira, ouvem contar que o Espírito do Mal escolheu esse vale para habitar.





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