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Capítulo 3: Capítulo 3

Página 33

Quase meia hora! Levantou-se e olhou para o espelho. A expressão decidida do seu rosto satisfê-la e lembrou-se de algumas mães que conhecia, e que não conseguiam livrar-se das filhas.

Mr. Doran sentia-se inquieto naquela manhã de domingo. Já por duas vezes tentara barbear-se, mas as mãos tremiam-lhe tanto, que tinha sido obrigado a desistir. Uma barba encarniçada de três dias cobria-lhe as maxilas, e de três em três minutos uma névoa embaciava-lhe os óculos, de modo que tinha que tirá-los para os polir com o lenço. A lembrança da sua confissão da noite passada era uma coisa dolorosa para ele; o padre arrancara-lhe todos os pormenores ridículos do caso e, no fim, falara-lhe de tal maneira do seu pecado, que quase ficara agradecido por consentir numa reparação. O mal estava feito. O que poderia agora fazer senão casar ou fugir? O caso seria certamente falado e chegaria aos ouvidos do seu patrão. Dublin é uma cidade pequena, onde todos sabem o que se passa com os outros. Sentia um grande calor na garganta quando, na sua excitada imaginação, ouvia Mr. Leonard dizer com a sua voz forte: «Mandem-me cá Mr. Doran, por favor!»

Aqueles longos anos de trabalho para nada! Toda a sua habilidade e diligência deitadas fora. Quando rapaz novo, fizera as suas tolices, é claro; tinha-se mostrado livre-pensador e negara a existência de Deus. Mas tudo isso era o passado. Ainda hoje comprava um exemplar do Reynolds Neuispaper todas as manhãs, cumpria os seus deveres religiosos e durante quase todo o ano levava uma vida regular. Tinha dinheiro suficiente para poder casar; mas não era isso: sabia que a família não havia de gostar. Primeiro que tudo havia o desonrado pai de Polly e, além disso, a pensão da mãe estava a ficar ultimamente com uma certa fama. Já imaginava os seus amigos falando do caso, rindo e fazendo troça da forma vulgar como ela falava. Mas que tinha a gramática a ver com isso, se realmente gostasse da rapariga? Não era capaz de decidir se gostava ou se, pelo contrário, a desprezava pelo que havia feito. Certamente ele também fizera mal. O seu instinto dizia-lhe para ficar livre e não casar. Uma vez casado tudo se acabaria.

Enquanto estava sentado na borda da cama, em atitude de abandono, Polly bateu levemente na porta e entrou. Contou-lhe tudo, que tinha dito tudo à mãe e que a mãe iria falar com ele naquela mesma manhã. Chorou, deitou-lhe as mãos em volta do pescoço e disse:

- Ai, Bob! Bob! Que hei-de eu fazer?

Poderia acabar comigo...

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Capa do livro Gente de Dublin
Páginas: 117
Página atual: 33

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 9
Capítulo 3 30
Capítulo 4 36
Capítulo 5 52
Capítulo 6 58
Capítulo 7 63
Capítulo 8 69
Capítulo 9 78
Capítulo 10 86