Depois de refletir alguns minutos, continuou:
- Recordo-me de que ele se gabou certa vez em Netherfield de ser implacável nos seus ressentimentos. E de ser dotado de um temperamento rancoroso. Deve ter um génio terrível.
- Quanto a isto nada posso dizer - replicou Wickham -, não me sinto com forças para julgá-lo com justiça.
Elizabeth tornou a mergulhar nos seus pensamentos e, depois de algum tempo, exclamou:
- Tratar desta maneira o afilhado, o amigo, o favorito de seu pai...
E poderia ter acrescentado: "Um rapaz como o senhor, cuja aparência depõe tanto a seu favor". Mas limitou-se a dizer:
- E além disso um companheiro de infância, um íntimo, como o senhor mesmo disse...
- Nascemos na mesma paróquia, dentro dos limites do mesmo parque, passamos juntos a maior parte da infância, vivemos na mesma casa, compartilhamos os mesmos divertimentos e fomos objetos da mesma afeição paternal. Meu pai começou a vida na mesma profissão em que o seu tio parece ter se distinguido, mas abandonou tudo para servir Mr. Darcy, dedicando todo o seu tempo à administração da propriedade de Pemberley. Era altamente estimado por Mr. Darcy, que fez dele o seu amigo íntimo e confidente. Mr. Darcy, mais de uma vez, reconheceu publicamente que devia as maiores obrigações a meu pai, pelos serviços que este lhe prestara na administração dos seus bens. E quando, um pouco antes da morte de meu pai, Mr. Darcy lhe prometeu espontaneamente encarregar-se do meu futuro, estou convencido de que sentia que essa promessa era uma dívida de gratidão para com meu pai, além de ser uma prova de afeição para comigo.
- Como é estranho! - exclamou Elizabeth. - Que coisa abominável! Espanta-me que o próprio orgulho de Mr. Darcy não o tenha levado a ser justo para com o senhor.