Alice não disse nada: sentou-se com a cabeça entre as mãos, indagando a si mesma se alguma vez as coisas voltariam a ser como antes.
“Eu gostaria de uma explicação”, disse a Falsa Tartaruga.
“Ela não pode explicar”, disse o Grifo com pressa. “Prossiga com a próxima estrofe.”
“Mas e os botões?” insistiu a Falsa Tartaruga. “Como ela podia ajeitá-los com o nariz?”
“É a primeira posição na dança”, disse Alice. Mas ela estava terrivelmente embaraçada com aquilo tudo e ansiava por mudar de assunto.
“Prossiga com a próxima estrofe”, repetiu o Grifo: “começa com ‘Ao passar no jardim’.” Alice não ousou contestar, embora tivesse certeza de que tudo sairia errado. E prosseguiu com voz vacilante: “Ao cruzar seu jardim, vi a coruja e a pantera
Dividindo uma empada — à segunda coubera
Massa, molho e recheio; porém, pelo trato,
Só cabia à primeira ficar com o prato.
Finda a empada, a coruja ganhou a colher
Como brinde, e a pantera, que após receber
Garfo e faca rosnara, acabou de lambuja
Esse belo banquete comendo a ——”
“Que sentido tem ficar repetindo tanto disparate”, interrompeu a Falsa Tartaruga, “se você não explica nada enquanto vai dizendo? Isto é de longe a coisa mais confusa que jamais ouvi!”
“Sim, acho melhor você parar”, disse o Grifo. E Alice ficou contentíssima em obedecê-lo.
“Vamos tentar outra figura da Quadrilha da Lagosta?” prosseguiu o Grifo. “Ou você preferiria que a Falsa Tartaruga cantasse outra canção?”
“Oh, uma canção, por favor, se a Falsa Tartaruga fizer esta gentileza”, respondeu Alice, tão entusiasmada que o Grifo disse, em tom ofendido: “Hum! Gosto não se discute! Quer cantar para ela a ‘Sopa de Tartaruga’, amiga velha?”