obscenidades lantejouladas de qualquer baixo-revisteiro sem gramática…
"A maioria, meu caro, a maioria… os felizes… E daí, quem sabe se eles é que têm razão… se tudo o mais será frioleira…
"Em suma… em suma…
* * *
Correram meses, seguindo sempre entre nós o mesmo afeto, a mesma camaradagem.
Uma tarde de domingo - recordo-me tão bem - íamos em banalidade Avenida dos Campos Elísios acima, misturados na multidão, quando a sua conversa resvalou para um campo, que até aí o poeta nunca atacara, positivamente:
- Ah! como se respira vida, vida intensa e sadia, nestes domingos de Paris, nestes maravilhosos domingos!… É a vida simples, a vida útil, que se escoa em nossa face. Horas que nos não pertencem - etéreos sonhadores de beleza, roçados de Além, ungidos de Vago… Orgulho! Orgulho! E entanto como valera mais se fôssemos da gente média que nos rodeia. Teríamos, pelo menos de espírito, a suavidade e a paz. Assim temos só a luz. Mas a luz cega os olhos… Somos todos álcool, todos álcool! - álcool que nos esvai em lume que nos arde!
"E é pela agitação desta cidade imensa, por esta vida atual, quotidiana, que eu amo o meu Paris numa ternura loura. Sim! Sim! Digo bem, numa ternura - uma ternura ilimitada. Eu não sei ter afetos. Os meus amores foram sempre ternuras… Nunca poderia amar uma mulher pela alma - isto é: por ela própria. Só a adoraria pelos enternecimentos que a sua gentileza me despertasse: pelos seus dedos trigueiros a apertarem os meus numa tarde de sol, pelo timbre subtil da sua voz, pelos seus rubores - e as suas gargalhadas… as suas correrias…
"Para mim, o que pode haver de sensível no amor é uma saia branca a sacudir o ar, um laço de cetim que mãos esguias enastram, uma cintura que se verga, uma madeixa perdida que o vento desfez, uma canção ciciada em lábios de ouro e de vinte anos, a flor que a boca de uma mulher trincou…
"Não, nem é sequer a formosura que me impressiona.