A Confissão de Lúcio - Cap. 6: CAPÍTULO 4 Pág. 54 / 93

Ao jantar falou-se só da minha "madureza" e o primeiro a blagueá-la fui eu próprio.

Marta estava linda essa noite. Vestia uma blusa negra de crepe-da-china, amplamente decotada. A saia, muito cingida, deixava pressentir a linha escultural das pernas, que uns sapatos muito abertos mostravam quase nuas, revestidas por meias de fios metálicos, entrecruzados em largos losangos por onde a carne surgia…

E pela primeira vez, ao jantar, me sentei a seu lado, pois o artista recusou o seu lugar do costume pretextando uma corrente de ar…

* * *

O que foram as duas semanas que sucederam a esta noite, não sei. Entanto a minha lucidez continuava. Nenhuma ideia estranha feria o meu espírito, nenhuma hesitação, nenhum remorso… E contudo sabia-me arrastado, deliciosamente arrastado, numa nuvem de luz que me encerrava todo e me aturdia os sentidos - mas não deixava ver, embora eu tivesse a certeza de que eles me existiam bem lúcidos. Era como se houvesse guardado o meu espírito numa gaveta…

* * *

Foi duas noites após o meu regresso que as suas mãos, naturalmente, pela primeira vez, encontraram as minhas…

Ah! como as horas que passávamos solitários eram hoje magentas… As nossas palavras tinham-se volvido - pelo menos julgo que se tinham volvido - frases sem nexo, sob as quais ocultávamos aquilo que sentíamos e não queríamos ainda desvendar, não por qualquer receio, mas sim, unicamente, num desejo perverso de sensualidade.

Tanto que uma noite, sem me dizer coisa alguma, ela pegou nos meus dedos e com eles acariciou as pontas dos seios - a acerá-las, para que enfolassem agrestemente o tecido ruivo do quimono de seda.

E cada noite era uma nova voluptuosidade silenciosa.

Assim, ora nos beijávamos os dentes, ora ela me estendia





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