Ao jantar falou-se só da minha "madureza" e o primeiro a blagueá-la fui eu próprio.
Marta estava linda essa noite. Vestia uma blusa negra de crepe-da-china, amplamente decotada. A saia, muito cingida, deixava pressentir a linha escultural das pernas, que uns sapatos muito abertos mostravam quase nuas, revestidas por meias de fios metálicos, entrecruzados em largos losangos por onde a carne surgia…
E pela primeira vez, ao jantar, me sentei a seu lado, pois o artista recusou o seu lugar do costume pretextando uma corrente de ar…
* * *
O que foram as duas semanas que sucederam a esta noite, não sei. Entanto a minha lucidez continuava. Nenhuma ideia estranha feria o meu espírito, nenhuma hesitação, nenhum remorso… E contudo sabia-me arrastado, deliciosamente arrastado, numa nuvem de luz que me encerrava todo e me aturdia os sentidos - mas não deixava ver, embora eu tivesse a certeza de que eles me existiam bem lúcidos. Era como se houvesse guardado o meu espírito numa gaveta…
* * *
Foi duas noites após o meu regresso que as suas mãos, naturalmente, pela primeira vez, encontraram as minhas…
Ah! como as horas que passávamos solitários eram hoje magentas… As nossas palavras tinham-se volvido - pelo menos julgo que se tinham volvido - frases sem nexo, sob as quais ocultávamos aquilo que sentíamos e não queríamos ainda desvendar, não por qualquer receio, mas sim, unicamente, num desejo perverso de sensualidade.
Tanto que uma noite, sem me dizer coisa alguma, ela pegou nos meus dedos e com eles acariciou as pontas dos seios - a acerá-las, para que enfolassem agrestemente o tecido ruivo do quimono de seda.
E cada noite era uma nova voluptuosidade silenciosa.
Assim, ora nos beijávamos os dentes, ora ela me estendia