- Ah… Não o sabia em Paris - murmurou Gervásio.
E para mim, depois de me haver apresentado à estrangeira:
- Você conhece? Ricardo de Loureiro, o poeta das Brasas…
Que nunca lhe falara, que apenas o conhecia de vista e, sobretudo, que admirava intensamente a sua obra.
- Sim… não discuto isso… você bem vê, para mim já essa arte passou. Não me pode interessar… Leia-me os selvagens, homem, que diacho!…
Era uma das scies de Gervásio Vila-Nova: elogiar uma pseudo-escola literária da última hora - o Selvagismo, cuja novidade residia em os seus livros serem impressos sobre diversos papéis e com tintas de várias cores, numa estrambótica disposição tipográfica. Também - e eis o que mais entusiasmava o meu amigo - os poetas e prosadores selvagens, abolindo a ideia, "esse escarro", traduziam as suas emoções unicamente em jogo silábico, por onomatopeias rasgadas, bizarras: criando mesmo novas palavras que coisa alguma significavam e cuja beleza, segundo eles, residia justamente em não significarem coisa alguma… De resto, até aí, parece que apenas se publicara um livro dessa escola. Certo poeta russo de nome arrevesado. Livro que Gervásio seguramente não lera, mas que todavia se não cansava de exalçar, gritando-o assombroso, genial…
A mulher estranha chamou-nos para a sua mesa, e apresentou-nos os seus companheiros, que ainda não conhecíamos: o jornalista Jean Lamy, do Fígaro, o pintor holandês Van Derk e o escultor inglês Tomás Westwood. Os dois outros eram o pintor americano dos Óculos azuis e o inquietante viscondezinho de Naudières, louro, diáfano, maquilhado. Quanto às duas raparigas, limitou-se apontando-nos:
- Jenny e Dora.
A conversa logo se entabulou ultracivilizada e banal. Falou-se de modas, discutiu-se teatro e music-hall, com muita arte à mistura.