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Capítulo 8: CAPÍTULO 6

Página 78
Eu não soube nunca desculpar uma falta de orgulho. E sentia que toda a minha amizade por Ricardo de Loureiro soçobrara hoje em face da sua baixeza. A sua baixeza! Ele que tanto me gritara ser o orgulho a única qualidade cuja ausência não perdoava num carácter…

Mas devo esclarecer. ao pensar no extraordinário procedimento do meu amigo, nunca me confrangiam as reminiscências das minhas antigas obsessões.

Esquecera-as por completo. Mesmo que as recordasse, importância alguma já daria ao mistério - seguramente mistério de pacotilha -, ao meu ciúme, a tudo mais…

Apenas às vezes, quando muito, me assaltava uma saudade vaga, esvaída em melancolia, por tudo o que outrora me torturara.

Somos sempre assim: O tempo vai passando, e tudo se nos volve saudoso - sofrimentos, dores até, desilusões…

Com efeito, ainda hoje, às tardes maceradas, eu não sei evitar numa reminiscência longínqua a saudade violenta de certa criaturinha indecisa que nunca tive, e mal roçou pela minha vida. Por isto só: porque ela me beijou os dedos: e um dia, a sorrir, defronte dos nossos amigos, me colocou em segredo o braço nu, mordorado, sobre a mão…

E depois logo fugiu da minha vida, esguiamente, embora eu, por piedade - doido que fui! -, ainda a quisesse dourar de mim, num enternecimento azul pelas suas carícias…

E sofri… ela era tão pouca coisa, mas a verdade é que sofri… sofri de ternura… uma ternura muito suave… penetrante… aquática…

Os meus afetos, mesmo, foram sempre ternuras…

Porém, quando me acordava essa saudade branda do meu antigo sofrimento - isto é: do corpo nu de Marta no mesmo instante ela se me diluía, ao lembrar-me da atitude infame de Ricardo.

E a minha revolta era cada vez maior.

Por felicidade, até aí, ainda não recebera uma carta do artista.

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Capa do livro A Confissão de Lúcio
Páginas: 93
Página atual: 78

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
A CONFISSÃO DE LÚCIO 1
PREFÁCIO 2
CAPÍTULO 1 4
CAPÍTULO 2 22
CAPÍTULO 3 40
CAPÍTULO 4 51
CAPÍTULO 5 57
CAPÍTULO 6 64
CAPÍTULO 7 81
CAPÍTULO 8 90