adivinhava ternuras… E, em face de quem as pressentia, só me vinham desejos de carícias, desejos de posse - para satisfazer os meus enternecimentos, sintetizar as minhas amizades…
Um relâmpago de luz ruiva me cegou a alma.
O artista prosseguiu:
- Ai, como eu sofri… como eu sofri!… Dedicavas-me um grande afeto; eu queria vibrar esse teu afeto - isto é: retribuir-to; e era-me impossível!… Só se te beijasse, se te enlaçasse, se te possuísse… Ah! mas como possuir uma criatura do nosso sexo?…
"Devastação! Devastação! Eu via a tua amizade, nitidamente a via, e não a lograva sentir!… Era toda de ouro falso…
"Uma noite, porém, finalmente, uma noite fantástica de branca, triunfei! Achei-A… sim, criei-A!… criei-A… Ela é só minha - entendes? - é só minha!… Compreendemo-nos tanto, que Marta é como se fora a minha própria alma. Pensamos da mesma maneira; igualmente sentimos. Somos nós-dois… Ah! e desde essa noite eu soube, em glória soube, vibrar dentro de mim o teu afeto - retribuir-to: mandei-A ser tua! Mas, estreitando-te ela, era eu próprio quem te estreitava… Satisfiz a minha ternura: Venci! E ao possui-la, eu sentia, tinha nela, a amizade que te devera dedicar - como os outros sentem na alma as suas afeições. Na hora em que a achei - tu ouves? - foi como se a minha alma, sendo sexualizada, se tivesse materializado. E só com o espírito te possuí materialmente! Eis o meu triunfo… Triunfo inigualável! Grandioso segredo!…
* * *
"Oh! mas como eu hoje sofro… como sofre outra vez despedaçadoramente…
"Julgaste-me tão mal… Enojaste-te… gritaste à infâmia, à baixeza… e o meu orgulho ascendia cada aurora mais alto!… Fugiste… E, em verdade, fugiste de ciúme… Tu não eras o meu único amigo - eras o primeiro, o maior - mas também