por um outro eu oscilava ternuras… Assim a mandei beijar esse outro… Warginsky, tens razão, Warginsky… Julgava-o tão meu amigo… parecia-me tão espontâneo… tão leal… tão digno de um afeto… E enganou-me… enganou-me…
Atónito, eu ouvia o poeta como que hipnotizado - mudo de espanto, sem poder articular uma palavra…
A sua dor era bem real, bem sincero o seu arrependimento; e observei que o tom da sua voz se modificara, aclarando-se ao referir-se ao conde russo - para logo de novo se velar, dizendo:
- Que valem os outros, entanto, em face da tua amizade? Coisa alguma! Coisa alguma!… Não me acreditas?… Ah! mas é preciso que me acredites… que me compreendas… Vem!… Ela é só minha! Pelo teu afeto eu trocaria tudo - mesmo o meu segredo. Vem!
Depois, foi uma vertigem…
Agarrou-me violentamente por um braço… obrigou-me a correr com ele…
* * *
Chegamos por fim diante da sua casa. Entramos… galgamos a escada de um salto…
Ao atravessarmos o vestíbulo do primeiro andar, houve um pormenor insignificante, o qual, não sei por que, nunca olvidei: em cima de um móvel onde os criados, habitualmente, punham a correspondência, estava uma carta… Era um grande sobrescrito timbrado com um brasão a ouro…
É estranho que, num minuto culminante como este, eu pudesse reparar em tais ninharias. Mas o certo foi que o brasão dourado me bailou alucinador em frente dos olhos. Entretanto não pude ver o seu desenho - vi só que era um brasão dourado e, ao mesmo tempo - coisa mais estranha -, pareceu-me que eu próprio já recebera um sobrescrito igual àquele.
O meu amigo - ainda que preso de uma grande excitação - abriu a carta, leu-a rapidamente, e logo a amarfanhou arremessando-a para o sobrado…
Depois, torceu-me o braço com maior violência.