O Retrato de Dorian Gray - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 178 / 335

O perigo passara. Por agora estava salvo. Contudo, não pôde deixar de sentir um dó infinito pelo pintor que acabava de lhe fazer aquela estranha confissão, e a si mesmo perguntava se algum dia viria também a ser dominado pela personalidade dum amigo. Lord Henry tinha o encanto de ser muito perigoso. Mas nada mais. Era demasiado inteligente e cínico para dele se gostar deveras. Surgiria um dia alguém que nele infundiria uma estranha idolatria? Era isso uma das coisas que a vida lhe reservava?

- Acho extraordinário, Dorian - volveu Hallward - que você haja visto isso no retrato. Viu-o realmente?

- Vi nele alguma coisa, alguma coisa que me pareceu muito curiosa.

- Bem, permite-me vê-lo agora? Dorian meneou a cabeça.

- Não me peça isso, Basil. Ser-me-ia absolutamente impossível deixá-lo em presença desse quadro.

- Mas permitir-mo-á outro dia?

- Nunca!

- Bem, talvez tenha razão, E agora, adeus, Dorian. Foi a única pessoa na minha vida que realmente influenciou a minha arte. Tudo o que e bom eu tenho feito a si o devo. Ah! Não sabe quanto e custou dizer-lhe tudo o que lhe disse.

- Meu caro Basil, que me disse você? Simplesmente que tinha por mim uma excessiva admiração. Isso nem sequer é um cumprimento.





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