Quando o pintor se retirou, Dorian Gray sorriu de si para si. Pobre Basil! Que pouco sabia da verdadeira razão! E que estranho era que, em vez de haver sido obrigado a revelar o seu segredo, houvesse conseguido, quase por acaso, arrancar do seu amigo um segredo! Quantas coisas lhe explicava aquela estranha confissão! Os absurdos acessos de ciúme do pintor, a sua desvairada devoção, os seus extravagantes panegíricos, as suas curiosas reticências - compreendia agora tudo isso, e sentia certa mágoa. Parecia-lhe haver algo trágico numa amizade assim colorida pelo romance.
Suspirou e tocou a campainha. O retrato tinha de ser escondido, custasse o que custasse. Não podia correr o risco duma nova descoberta. Fora loucura deixar aquilo, uma hora só que fosse, num quarto em que podia entrar qualquer amigo.