Então, endireitou-se, dirigiu-se para a lareira e quedou-se aí a contemplar as achas crepitantes, as cinzas alvacentas como geada e as línguas palpitantes das chamas.
- Estou à espera, Basil - disse o jovem, numa voz dura, nítida.
Voltou-se e exclamou:
- O que tenho a dizer é o seguinte: você tem de responder às acusações horríveis que lhe são assacadas. Se me disser que são absolutamente falsas, do princípio ao fim, acreditá-lo-ei. Negue-as, Dorian, negue-as! Não vê o que eu sofro? Deus meu! Não me diga que é mau, que é corrupto e torpe.
Dorian Gray sorriu. Franziu os lábios numa expressão de desprezo.
- Suba, Basil - disse placidamente. - Tenho um diário onde está a minha vida anotada dia a dia e que nunca sai do quarto onde é escrito. Mostrar-lho-ei, se vier comigo.
- Irei, Dorian, se assim o deseja. Vejo que já perdi o comboio. Deixá-lo. Posso ir amanhã. Mas não me peça que leia coisa alguma. O que eu quero é uma resposta clara à minha pergunta.
- Ser-lhe-á dada lá em cima. Não lha podia dar aqui. Não levará muito tempo a ler...