- Alan, suplico-lhe. Pense na situação em que me encontro. Um momento antes de você chegar, eu quase desfalecia de terror. Um dia também pode saber o que é o terror. Não! Não pense nisso! Considere o assunto apenas sob o ponto de vista científico. Você não pergunta donde vieram os cadáveres que utiliza para as suas experiências. Não o pergunte também agora. Já lhe dei explicações demais. Mas peço-lhe que me faça isto. Fomos em tempos amigos, Alan.
- Não me fale desses dias, Dorian: morreram!
- Os mortos demoram-se, às vezes, por cá... O homem que está lá em cima, esse não partirá. Está sentado à mesa com a cabeça pendente e os braços estendidos. Alan! Alan! Se não acode em meu auxílio, estou desgraçado! Enforcar-me-ão, Alan! Não compreende? Enforcar-me-ão pelo crime que perpetrei.
- De nada serve prolongar esta cena. Recuso-me absolutamente a fazer seja o que for. É uma loucura pedir-mo.
- Recusa?
- Recuso!
- Suplico-lhe, Alan.
- É inútil!
Assomou de novo aos olhos de Dorian Gray a mesma expressão de piedade. Estendeu a mão, pegou num papel e escreveu qualquer coisa. Leu-o e releu-o, dobrou-o cuidadosamente e empurrou-o para o outro lado da mesa. Feito isto, levantou-se e foi para a janela.
Campbell encarou-o, surpreendido, pegou no papel e abriu-o. Ao lê-lo, pôs-se medonhamente pálido e caiu para trás na cadeira. Acometeu-o uma sensação horrível de estar doente.