- Fique, Henry, para fazer a vontade a Dorian e a mim - disse Hallward, fixando os olhos no retrato. - É verdade, eu nunca falo quando estou a trabalhar, e também nunca atendo ao que me dizem, e isso deve causar um tédio terrível aos meus desventurados modelos. Fique, peço-lhe!
- E o homem que está à minha espera? O pintor riu-se.
- Não me parece que daí resulte alguma contrariedade. Sente-se, Henry. E agora, Dorian, suba para o estrado, e não se mexa muito nem ligue atenção ao que Lord Henry disser. Ele exerce uma influência nociva sobre todos os seus amigos, com a única excepção da minha pessoa.
Dorian Gray subiu para o estrado, com o ar de um mártir grego, e, olhando para Lord Henry, para quem se sentia já fortemente atraído, mostrou-lhe um leve assomo de enfado. Lord Henry era tão diferente de Basil. Faziam um contraste delicioso. E que bela voz a sua! Passados alguns instantes disse-lhe:
- É verdade ser assim tão má a sua influência, Lord Henry?
- Influência boa é coisa que não existe, Sr. Gray. Toda a influência é imoral, imoral sob o ponto de vista científico.
- Porquê?
- Porque exercer influência sobre um homem qualquer é dar-lhe a nossa própria alma.