- Que pena Henry Wotton vir tão tarde! Mandei-lhe recado esta manhã, à sorte, e ele prometeu fielmente não faltar.
Era uma consolação saber que Henry viria, e, quando se abriu a porta e lhe ouviu a sua voz lenta e musical realçar de encanto alguma insincera desculpa, deixou de se sentir aborrecido. Ao jantar, porém, nada pôde comer. Substituíam-lhe os pratos, uns após outros, sem ele os provar. Lady Narborough não cessava de o repreender pelo que ela classificava de «insulto ao pobre Adolf, que organizou o menu especialmente para o Sr. Gray», e, de vez em quando, Lord Henry olhava para ele, espantado do seu silêncio e dos seus modos abstractos. De quando em quando, o criado enchia-lhe o copo de champanhe. Bebia avidamente e cada vez parecia ter mais sede.
- Dorian - inquiriu, por fim, Lord Henry ao servirem o chaud-froid -, que tem? Parece mal disposto...
- Creio que está apaixonado - observou Lady Narborough -, e não mo quer dizer com medo de que eu tenha ciúmes. Faz muito bem. Teria com certeza...
- Querida Lady Narborough - murmurou Dorian, sorrindo -, há uma boa semana que me não apaixono por ninguém, é certo, desde que se foi embora Madame de Ferrol.