O Retrato de Dorian Gray - Cap. 19: Capítulo 19 Pág. 304 / 335

Saltou do carro, e, havendo ordenado ao moço que recolhesse a égua, dirigiu-se para o seu hóspede, através de fetos secos e plantas bravas.

- Boa caça, Geoffrey? - perguntou.

- Não muito boa, Dorian. Parece-me que a maior parte das aves fugiram para o descampado. Talvez se obtenha melhor resultado depois do almoço, indo para outro sítio.

Dorian seguiu a seu lado. O ar estimulante e balsâmico, as luzes castanhas e vermelhas que fulgiam no bosque, os estridentes gritos dos batedores, que de vez em quando faziam retumbar as suas buzinas, as detonações das espingardas fascinavam-no e enchiam-lhe a alma duma sensação de deliciosa liberdade. Sentia-se dominado pela despreocupação da felicidade, pela alta indiferença da alegria.

De súbito, duma pequena espessura de mato, a umas vinte jardas na sua frente, saltou uma lebre que procurava acoitar-se num maciço de amieiros. Sir Geoffrey levou a arma ao ombro, mas havia no animal uma tal graça de movimento, que estranhamente encantou Dorian Gray,

- Não atire, Geoffrey! - exclamou. - Deixe-a viver!

- Que tolice, Dorian! - respondeu, rindo, o seu companheiro; e, quando a lebre saltou para o maciço, disparou. Ouviram-se dois gritos: o grito duma lebre ferida, que é terrível, e o grito dum homem agonizante que é pior.





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