- Compreendo eu, Lord Henry - murmurou o Sr. Erskine, com um sorriso.
- Os paradoxos ficam sempre bem... - atalhou o barão.
- Isso era um paradoxo? - perguntou o Sr. Erskine.
- Não me pareceu. Talvez fosse... Bem. O caminho dos paradoxos é o caminho da verdade. Para experimentar a Realidade é preciso vê-la na corda tensa. Quando as Verdades se fazem acrobatas, podemos apreciá-las.
- Deus meu! - disse Lady Agatha -, como os homens discutem! Tenho a certeza de que nunca poderei perceber o que estão para aí a dizer. Oh! Henry, estou muito zangada contigo. Por que queres persuadir o nosso excelente Sr. Dorian Gray a abandonar o East End? Asseguro-te que ele seria lá apreciadíssimo. Haviam de gostar da sua maneira de tocar.
- Quero que ele toque só para mim - exclamou Lord Henry, sorrindo, e, olhando para o fundo da mesa, colheu um olhar radiante que lhe respondia.
- Mas são tão infelizes em Whitechapel - prosseguiu Lady Agatha.
- Tudo me pode despertar simpatia, menos o sofrimento - disse Lord Henry, encolhendo os ombros. - Isso é que não. É demasiado feio, demasiado horrível, demasiado confrangedor. Há alguma coisa terrivelmente mórbida na moderna simpatia pela dor. Ainda se compreende a simpatia pela cor, pela beleza, pela alegria da vida. Quanto menos se falar das desgraças da vida, melhor.