- Talvez não seja o Henry, Sr. Gray - respondeu uma voz fina.
Voltou-se imediatamente e pôs-se em pé num pulo. - Peço perdão. Pensava que...
- Pensava que fosse meu marido. É apenas a esposa. Permita-me que eu mesma me apresente. Conheço-o muito bem pelas suas fotografias. Creio que meu marido tem dezassete.
- Dezassete não, minha senhora!
- Então, dezoito. E eu vi-o com ele uma noite destas na Ópera.
Ria-se nervosamente ao falar, e examinava-o com os seus olhos vagos de miosótis. Era uma curiosa mulher, cujos vestidos pareciam sempre ter sido ideados num acesso de fúria e envergados numa tempestade. Andava sempre enamorada de alguém e, como a sua paixão nunca era correspondida, conservara todas as suas ilusões. Esforçava-se por parecer pitoresca, mas apenas conseguia ser desarranjada. Chamava-se Victoria, e tinha a arreigada mania de frequentar a igreja.
- Foi no Lohengrin, não foi, minha senhora?
- Foi; foi no querido Lohengrin, Gosto da música de Wagner mais que de qualquer outra. É tão ruidosa que se pode conversar todo o tempo sem os outros ouvirem o que a gente diz. É uma vantagem: não lhe parece, Sr. Gray?
Sacudiu-lhe os lábios delgados o mesmo riso nervoso e começou a brincar com uma faca de tartaruga.