- Estimo muito, meu amor, estimo muito - disse Lord Henry, elevando as negras sobrancelhas em forma de crescente e olhando para os dois com um sorriso satisfeito. - Lamento muito chegar tarde, Dorian. Fui ver um velho brocado à Rua Wardour e tive de regatear umas poucas de horas. Hoje sabe-se o preço e não se sabe o valor de nada.
- Tenho de me ir embora - exclamou a esposa de Lord Henry, rompendo um incómodo silêncio com o seu súbito riso frívolo. - Prometi sair de carro com a duquesa. Adeus, Sr. Gray. Adeus, Henry. Jantas fora, não? Também eu. Talvez nos encontremos em casa de Lady Thornbury.
- Sim, talvez, minha querida - disse Lord Henry, fechando a porta após ela, quando, semelhante a uma ave do paraíso que houvesse passado a noite à chuva, ela desferiu voo, deixando na sala um subtil perfume de frangipana. Depois acendeu um cigarro. e repoltreou-se num sofá.
- Nunca se case com uma mulher de cabelo cor de palha, Dorian - disse, após umas fumaças. - Porquê, Henry?
- Porque são muito sentimentais.
- Mas eu gosto das pessoas sentimentais.
- Nunca se case, Dorian. Os homens casam por cansaço; as mulheres por curiosidade. Espera-os a todos uma decepção.