— Amigo, portanto, como parece por esse raciocínio, será o homem bom e inimigo o mau?
— Sim.
— Ordenas-nos, pois, que acrescentemos ao que dizíamos inicialmente acerca da justiça que é justo fazer bem ao amigo e mal ao inimigo; agora, além disso, deve-se dizer que é justo fazer bem ao amigo bom e mal ao inimigo mau?
— Perfeitamente — disse ele —, assim parece-me bem expresso.
— Portanto — repliquei —, é próprio do justo fazer mal a quem quer que seja?
— Sem dúvida — respondeu — que é preciso fazer mal aos maus que são nossos inimigos.
— Mas os cavalos a que fazemos mal tornam-se melhores ou piores? — Piores.
— Relativamente à virtude dos cães ou à dos cavalos?
— A dos cavalos.
— E os cães a que se faz mal tornam-se piores, relativamente à virtude dos cães, e não à dos cavalos?
— Assim é.
— Mas os homens, camarada, a quem se faz mal, diremos de igual modo que se tornam piores, relativamente à virtude humana?
— Absolutamente.
— Ora, a justiça não é virtude humana?
—Assim é, também.
— Portanto, meu amigo, os homens a quem se faz mal tornam-se necessariamente piores.
— Assim parece.