— Mas, pela sua arte, pode o músico tornar ignorante em música?
— Impossível.
— E, pela arte equestre, pode o picador tornar inapto para montar a cavalo?
— Não é possível.
— Portanto, pela justiça, pode o justo tornar alguém injusto; ou, numa palavra, pela virtude, os bons podem tornar os outros maus?
— Não podem.
— Com efeito, não é próprio do calor, penso eu, arrefecer, mas o contrário.
— Assim é.
— Nem da seca molhar, mas o contrário.
— Sem dúvida.
— Nem do homem bom ser prejudicial, mas o contrário.
— Assim parece.
— Mas o justo é bom?
— Sem dúvida.
— Por conseguinte, não é próprio do justo ser prejudicial, Polemarco, nem a um amigo nem a ninguém, mas é próprio do seu contrário, do injusto.
— Creio que falas inteiramente verdade, Sócrates — confessou ele.
— Portanto, se alguém afirma que a justiça consiste em restituir a cada um o que se lhe deve e se entende por isso que o homem justo deve dano aos inimigos e serviço aos amigos, não é sábio o que defende tais ideias Com efeito, não diz a verdade: é que em nenhum caso e a ninguém no. pareceu justo fazer mal.