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- Sim, é o que acontece a muita gente. Mas, neste momento, que temos a ver com isso?
- Perfeitamente; há o risco de, sem o querermos, termos sido arrastados pela argumentação.
- Como?
- Insistimos corajosamente e como verdadeiros argumentadores no aspecto de que naturezas diferentes não devem ter os mesmos empregos, ao passo que de maneira nenhuma examinámos de que espécie de natureza diferente e de natureza própria se trata, nem sob que relação as distinguíamos quando atribuímos às naturezas diferentes funções diferentes e às naturezas próprias funções idênticas.
- Com efeito - disse ele -, não examinámos.
- Sendo assim, podemos perfeitamente perguntar, julgo eu, se a natureza dos calvos e a dos cabeludos são idênticas e, depois de termos concluído que são opostas, proibir os cabeludos de exercerem o ofício de sapateiro, no caso de os calvos o exercerem, e reciprocamente aplicar a mesma proibição aos calvos, se forem os cabeludos a exercê-lo.
- É claro que seria ridículo!
- Mas - continuei - seria ridículo por uma razão diferente: na exposição do nosso princípio não se tratava de naturezas absolutamente idênticas ou diferentes; não considerávamos senão essa forma de diferença ou de identidade que se refere aos empregos em si mesmos. Dizíamos, por exemplo, que o médico e o homem dotado para a medicina têm a mesma natureza, não é verdade?
- Sim, é.
- E que um médico e um carpinteiro têm natureza diversa.
- Perfeitamente.
- Portanto, se concluirmos que os dois sexos diferem entre si quanto à sua aptidão para exercerem determinada arte ou função, diremos que se deve atribuir essa arte ou função a um ou a outro; mas, se a diferença consistir apenas no facto de a fêmea parir e o macho procriar, não admitiremos por isso como demonstrado que a mulher difere do homem na relação que nos ocupa e continuaremos a pensar que os guardas e as suas mulheres devem exercer os mesmos empregos.
- E não estaremos errados.
- Depois disso, convidaremos o nosso opositor a ensinar-nos qual é a arte ou o emprego, respeitante ao serviço da cidade, para cujo exercício a natureza da mulher difere da do homem.
- Está certo esse convite.
- Talvez nos digam, como tu há pouco, que não é fácil responder imediatamente de modo satisfatório, mas que, após uma análise, não é difícil.
- Podem dizê-lo, com efeito.