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Capítulo 5: Capítulo 5

Página 133

- Sim, com toda a certeza.

- Queres que sejamos nós a pôr a questão, a fim de não sitiar uma praça deserta?

- Nada o impede - disse ele.

- Tomemos então a palavra pelos nossos adversários: «Sócrates e Gláucon, não há necessidade de que outros vos façam objecções»; com efeito, vós mesmos admitistes, ao lançardes os alicerces da vossa cidade, que cada um devia ocupar-se da única tarefa adequada à sua natureza.

- Admitimos, é verdade.

- Ora, é possível que o homem não difira infinitamente da mulher por natureza?

- Como não havia de diferir?

- Convém então atribuir a cada um uma tarefa diferente, de acordo com a sua natureza.

- Certamente.

- Por conseguinte, como não vos enganaríeis ágora e não estaríeis em contradição ao afirmardes que homens e mulheres devem desempenhar as mesmas tarefas, embora tenham naturezas muito distintas? Poderás, espantoso amigo, responder algum a coisa a isto?

- Assim de repente - confessou -, não é nada fácil; mas terei de te pedir, e peço realmente, que esclareças também o sentido, qualquer que seja, da nossa tese.

- Essas dificuldades, Gláucon, e muitas outras semelhantes, foram por mim previstas há muito tempo: era por isso que eu receava e hesitava em abordar a lei sobre a posse e a educação das mulheres e das crianças.

- Por Zeus! Não é coisa fácil!

- Por certo que não. Mas, na verdade, quer um homem caia numa piscina ou no meio do mar, nem por isso deixa de nadar.

- Sem dúvida.

- Pois bem! Também nós devemos nadar e tentar sair salvos da discussão, fortalecidos pela esperança de que talvez encontremos um golfinho para nos transportar ou algum outro meio impossível de salvação!

- Assim parece.

- Ora vejamos - disse eu - se descobrimos uma saída. Admitimos que uma diferença de natureza provoca uma diferença de funções e, por outro lado, que a natureza da mulher difere da do homem. Ora, pretendemos agora que naturezas diferentes devem desempenhar as mesmas funções. Não é disto que nos acusam?

-Sim, é.

- Na verdade, Gláucon, a arte da controvérsia tem um nobre poder!

- Porquê?

- Porque muitas pessoas, ao que parece, se deixam arrastar por ela e julgam raciocinar quando afinal questionam. Isso deve-se ao facto de serem incapazes de tratar o seu tema analisando-o nos seus diferentes aspectos: procedem à contradição agarrando-se apenas às palavras e servem-se da contestação, e não da dialéctica.

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 133

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265