— Estou de acordo — disse ele.
— Por isso, combateremos em comum — prossegui —, tu e eu, quem atribuir semelhante máxima a Simónides, a Bias ou a Pítaco ou a qualquer outro dos homens sábios e divinos.
— Estou disposto — clamou — a associar-me ao combate.
— Mas sabes — continuei — de quem me parece esta asserção: que é justo ser útil aos amigos e prejudicial aos inimigos?
— De quem? — perguntou.
— Creio que é de Periandro, de Pérdicas, de Xesxes, de Isménio, o Tebano, ou de qualquer outro homem rico que se julgue muito poderoso.
— É inteiramente verdade — concordou.
— Bom — disse eu. — Mas, visto que nem a justiça nem o justo nos pareceram consistir nisso, de que outra maneira poderemos defini-los?
Ora, Trasímaco tentara, por várias vezes, enquanto falávamos, tomar parte na conversa, mas fora impedido pelos companheiros, que queriam ouvir-nos até ao fim. Durante a pausa que fizemos, depois das minhas últimas palavras, não se conteve mais; levantando-se do chão, como uma fera, lançou-se contra nós, como para nos despedaçar.
Polemarco e eu ficamos aterrorizados; mas ele, erguendo a voz no meio do auditório, disse:
— Que tagarelice é essa, Sócrates, e porque fazeis de tolos, inclinando-vos alternadamente um diante do outro? Se, realmente, queres saber o que é justo, não te contentes em interrogar e não te obstines em refutar aquele que responde, mas, tendo reconhecido que é mais fácil interrogar do que responder, responde tu mesmo e diz como defines a justiça. E abstém-te de pretender que é o que se deve fazer, o útil, o proveitoso, o lucrativo ou o vantajoso; exprime-te com clareza e precisão, porque eu não admitirei tais banalidades.