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Capítulo 6: Capítulo 6

Página 165

- Está bem - retorqui. - Zombas de mim depois de me teres comprometido numa questão tão difícil de resolver. Ora ouve a minha comparação, a fim de veres ainda melhor como estou ligado a este processo. O tratamento que os Estados aplicam aos homens mais sábios é tão duro que não há ninguém no mundo que sofra outro semelhante e que, para dosar uma imagem, aquele que pretenda defendê-los é obrigado a reunir os caracteres dose múltiplos objectos, à maneira dos pintores que representam animais metade bodes e metade veados e outras alianças do mesmo género. Ora imagina que qualquer coisa como isto se passa a bordo de um ou de vários navios. O comandante, em corpulência e em força, sobrepõe-se a todos os membros da tripulação, mas é um pouco surdo, um pouco míope e tem, em matéria de navegação, conhecimentos tão curtos como a sua vista. Os marinheiros disputam entre si o leme; cada um pensa que tem direito a ele, embora não conheça a arte e não possa dizer com que mestre nem quando a aprendeu. Além disso, pretendem que não é uma arte que se aprenda e, se alguém ousa dizer o contrário, estão prontos a fazê-lo em pedaços. Sem cessar em redor do comandante, atormentam-no com as suas preces e utilizam todos os meios para que lhes confie o leme; e se, porventura, não conseguem persuadi-lo e outros o conseguem, matam estes ou lançam-nos borda fora. Em seguida, apoderam-se do comandante, quer adormecendo-o com mandrágora, quer embriagando-o, quer de qualquer outra maneira; senhores do navio, apropriam-se então de tudo o que nele existe e, bebendo e festejando, navegam como podem navegar semelhantes indivíduos; além disso, louvam e chamam bom marinheiro, excelente piloto, mestre na arte náutica, àquele que sabe ajudá-los a assumir o comando - usando de persuasão ou de violência para com o comandante - e consideram inútil quem quer que não os ajude: por outro lado, no que respeita ao verdadeiro piloto, nem sequer suspeitam de que deve estudar o tempo, as estações, o céu, os astros, os ventos, se quiser realmente tornar-se capaz de dirigir um navio; quanto à maneira de comandar, com ou sem a concordância desta ou daquela parte da tripulação, não pensam que seja possível aprender isso, pelo estudo ou pela prática, ~, ao mesmo tempo, a arte da pilotagem. Não achas que nos navios onde se verificam semelhantes cenas o verdadeiro piloto será tratado pelos marinheiros de namorador de estrelas, de frívolo palrador e de indivíduo sem préstimo?

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 165

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265