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Capítulo 6: Capítulo 6

Página 164

- Podes então censurar em qualquer parte uma profissão que nunca será convenientemente exercida se quem a exerce não for, por natureza, dotado de memória, facilidade em empreender, grandeza de alma e boa vontade; se não se for amigo e como que parente da verdade, da justiça, da coragem e da moderação?

- Não - confessou. - O próprio Momo (Deus do Riso e do Sarcasmo) não veria nisso nada a censurar.

- Pois bem! Não é a homens assim, amadurecidos pela educação e a idade, que confiarás o governo da cidade?

Adimanto usou então da palavra para dizer:

- Sócrates, ninguém conseguiria opor-se aos teus raciocínios. Mas eis o que sentem as pessoas, sempre que te ouvem discorrer, como acabas de fazer: imaginam que, por inexperiência na arte de interrogar e responder, se deixaram desorientar um pouco em cada questão, e esses pequenos desvios, acumulando-se, aparecem no fim da discussão sob a forma de um grande erro, inteiramente contrário ao que se tinha decidido inicialmente; e, assim como no gamão os jogadores inábeis acabam por ser bloqueados pelos hábeis ao ponto de não saberem que peça avançar, de igual modo o teu interlocutor fica bloqueado e não sabe que dizer, nesta espécie de gamão, em que se joga, não com peões, mas com argumentos; e, no entanto, nem por isso se inclina a pensar que a verdade esteja nos teus discursos. Falo assim tendo em conta a discussão presente: com efeito, poderíamos agora dizer-te que não temos nada a opor em palavras a cada uma das tuas questões, mas que, de facto, se vê perfeitamente que os que se consagram à filosofia e que, depois de a terem estudado na juventude, para se instruírem, não a abandonam, antes ficam presos a ela, se tornam, em grande número, personagens bizarras, para não dizer perversas, ao passo que os que parecem os melhores, embora viniados por esse estudo que exaltas, são inúteis às cidades.

Então, tendo-o escutado, perguntei-lhe:

- Achas que os que defendem tais ideias não dizem a verdade?

- Não sei - respondeu -, mas gostaria de saber a tua opinião a esse respeito.

- Fica então sabendo que me parece que dizem a verdade.

- Nesse caso - replicou -, como se é autorizado a pretender que não haverá fim para os males que afectam as cidades enquanto estas não forem governadas por esses filósofos que, por outro lado, reconhecemos que lhes são inúteis?

- Levantas uma questão a que só posso responder por uma imagem.

- Contudo - disse ele - parece-me que não é hábito teu exprimires-te por imagens!

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pág. 164 (Capítulo 6)

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 164

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265