— Bom! — disse ele. — Que uma coisa é semelhante à outra!
—Nada o impede — retorqui. — E, mesmo que não fosse semelhante, mas que assim parecesse à pessoa interrogada, achas que deixaria de responder o que lhe parece verdadeiro, quer lho proibíssemos ou não?
— Será que também tu — perguntou — agirás desse modo? Darás uma das respostas que eu proibi?
— Não me espantaria — respondi — se, depois de pensar, tomasse esse partido.
— Mas como? — disse ele. — Se eu aprovo que há, acerca da justiça, uma resposta diferente de todas essas e melhor, a que te condenas?
— A que há-de ser — repliquei — senão ao que convém ao ignorante? Ora, convém-lhe ser instruído por quem sabe; portanto, condeno-me a isso.
— És encantador, com efeito — disse ele. — Mas, para além da pena de aprenderes, também entrarás com dinheiro.
— Com certeza, quando o tiver — respondi.
— Mas nós temos — disse Gláucon. e Se é uma questão de dinheiro, Trasímaco, fala: pagaremos todos por Sócrates.
—Percebo perfeitamente — prosseguiu ele. — Para que Sócrates se entregue à sua ocupação habitual, não deve responder e, quando alguém responde, apodera-se do argumento e refuta-o!