— Como, excelente homem — retorqui —, se poderia responder, em primeiro lugar, quando não se sabe e se confessa não saber, em seguida quando, se se tem uma opinião sobre o assunto, se é proibido de dizer o que se pensa por uma personagem cuja autoridade não é medíocre? É a ti que compete falar, visto que pretendes saber e ter algo a dizer. Não te esquives, portanto: dá-me o prazer de responder e não uses de parcimónia para instruir Gláucon e os outros.
Quando disse estas coisas, Gláucon e os outros pediram-lhe que não se esquivasse. leia-se perfeitamente que Trasímaco estava desejoso de falar para se distinguir, julgando ter uma excelente resposta a dar; mas aparentava insistir para que fosse eu a responder. Por fim, cedeu; depois exclamou:
— É esta a sabedoria de Sócrates: recusar-se a ensinar, ir instruir-se junto dos outros e não se mostrar reconhecido por isso!
— Dizes, com razão — repliquei —, que me instruo junto dos outros mas enganas-te ao pretender que não lhes pago na mesma moeda. Com efeito, pago na medida em que posso. Ora, não posso senão aplaudir, por que não tenho riquezas. Mas a alegria com que o faço, quando alguém me parece falar bem, conhecê-la-ás logo que me tenhas respondido; porque eu penso que falaras bem.
— Ouve, então — disse ele. — Afirmo que o justo não é senão a vantagem do mais forte. Pois bem!, que esperas para me aplaudir? Vais-te recusar!
— Em primeiro lugar, permite que eu compreenda o que dizes; porque, neste momento, ainda não percebi. Pretendes que a vontade do mais forte é o justo. Mas como entendes isso, Trasímaco? Não o entendes, com efeito, da seguinte maneira: «Se Polídamas, o lutador de pancrácio, é mais forte do que nós e a carne de boi é mais vantajosa para a conservação das suas forças, não dizes que, também para nós, mais fracos do que ele, esse alimento é vantajoso e ao mesmo tempo, justo?
