— Sim, por Zeus, Sócrates, é claríssimo! — exclamou Polemarco.
— Se ao menos testemunhasses por ele... — interveio Clitofonte.
— E quem tem necessidade de testemunho? — replicou ele. — Com efeito, Trasímaco reconhece que às vezes os governantes dão ordens que lhes são prejudiciais e que é justo que os governados as executem.
— De facto, Polemarco, executar as ordens dadas pelos governantes foi o que Trasímaco considerou justo.
— De facto, Clitofonte, ele considerou justo o que é vantajoso para o mais forte. Tendo enunciado estes dois principias, reconheceu, por outro lado, que às vezes os mais fortes davam aos mais fracos e aos governados ordens que eram prejudiciais a eles mesmos. Destas declarações resulta que o justo é tanto a vantagem como a desvantagem do mais forte.
— Mas — insistiu Clitofonte—ele definiu como vantagem do mais forte o que o mais forte julga ser vantajoso para si mesmo; é isso que o mais fraco tem de fazer e foi isso que Trasímaco considerou justo.
— Ele não se exprimiu dessa maneira! — exclamou Polemarco.
— Não importa, Polemarco—disse eu.—Mas se, agora, Trasímaco se exprime assim, admitamos que é assim que o entende. E diz-me, Trasímaco: entendias por justo o que parece vantajoso para o mais forte, quer isso lhe dê vantagem ou não? Podemos dizer que te exprimes assim?
— De modo nenhum — respondeu. — Achas que chamo àquele que se engana o mais forte, no momento em que se engana?
— Assim pensava — disse — quando reconheceste que os governantes não são infalíveis, mas que podem enganar-se.