- Quero saber quais são esses quatro governos de que falavas.
- Não é difícil satisfazer-te - respondi -, dado que os governos a que me refiro são conhecidos. O primeiro e o mais louvado é o de Creta e da Lacedemónia; o segundo, que também só se louva em segundo lugar, chama-se oligarquia: é um governo cheio de vícios inumeráveis; oposto a este vem em seguida a democracia; finalmente, a nobre tirania, que se sobrepõe a todos os outros e que é a quarta e a última doença do Estado. Conheces outro governo que se possa ordenar numa classe bem distinta? As soberanias hereditárias, os principados venais e outros governos semelhantes não são, em certa medida, senão formas intermédias e encontram-se tanto entre os Bárbaros como entre os Gregos.
- Com efeito, citam-se muitos e estranhos - disse ele.
- Sabes - perguntei - que há tantas espécies de caracteres como formas de governo? Ou achas que essas formas provêm dos carvalhos e rochedos, e não dos costumes dos cidadãos, que arrastam tudo o resto para o lado para que se inclinam?
- Não - respondeu -, não podem provir senão daí.
- Portanto, se há cinco espécies de cidades, os caracteres da alma, nos indivíduos, serão também em número de cinco. - Sem dúvida.
-Já descrevemos o que corresponde à aristocracia e dissemos, com razão, que é bom e justo.
- Sim, descrevemos.
- Depois disso, não convém passar em revista os caracteres inferiores: primeiramente, o que ama a vitória e a honra, formado sobre o modelo do governo da Lacedemónia; em seguida o oligárquico, o democrático e o tirânico? Quando tivermos reconhecido qual é o mais injusto, opô-lo-emos ao mais justo e poderemos então acabar o nosso exame e ver como a pura justiça e a pura injustiça agem, respectivamente, sob e a felicidade ou a infelicidade do indivíduo, a fim de seguir a via da injustiça, se nos deixarmos convencer por Trasímaco, ou a da justiça, se cedermos às razões que já se manifestam a seu favor.
- Perfeitamente - disse ele -, é assim que convém proceder.